Transferências Tendíneas
Perder o movimento da mão ou dos dedos devido a uma lesão nos nervos ou tendões é uma situação assustadora. No entanto, o corpo humano possui uma capacidade incrível de adaptação, e a cirurgia de Transferência Tendínea é uma das técnicas mais fascinantes e gratificantes da cirurgia da mão para “devolver a vida” a um membro paralisado.

O Que É?
A Transferência Tendínea não é uma doença, mas sim uma solução cirúrgica. É um procedimento onde o cirurgião “desvia” um tendão saudável e funcionando (chamado de doador) e o reconecta a um local diferente para substituir a função de um tendão que está paralisado ou rompido (receptor).
Imagine que sua mão é controlada por várias cordas (tendões). Se uma corda importante arrebenta ou o motor dela pifa (lesão de nervo), o dedo para de mexer. Na transferência, pegamos uma “corda extra” ou menos importante que está funcionando e a ligamos no lugar daquela que parou. Com o tempo, o cérebro aprende que essa nova corda agora faz o movimento perdido.
Causas e Fatores de Risco
Esta cirurgia é indicada quando um músculo perde sua função de forma permanente e irreversível.
As causas mais comuns que levam à necessidade de uma transferência tendínea incluem:
Lesões de Nervos Periféricos: É a causa principal. Lesões graves nos nervos Radial (“mão caída”), Ulnar ou Mediano, onde o nervo não se recuperou após meses ou anos.
Lesões do Plexo Braquial: Traumas graves no ombro/pescoço (comuns em acidentes de moto).
Lesões Medulares: Pacientes tetraplégicos podem recuperar funções importantes, como a pinça dos dedos ou a extensão do cotovelo, através dessas cirurgias.
Rupturas de Tendão: Em doenças como Artrite Reumatoide, onde o tendão se rompe e não é possível costurá-lo ponta a ponta.
Paralisia Cerebral: Para balancear a força muscular.
Sintomas Mais Comuns
O paciente que precisa dessa cirurgia geralmente apresenta uma perda de função específica, e não dor. Os sinais dependem de qual nervo foi afetado:
Mão Caída (Lesão do Nervo Radial): O paciente não consegue levantar o punho nem esticar os dedos e o polegar. A mão fica “pendurada”.
Perda de Pinça: Dificuldade em segurar uma chave ou pegar uma moeda.
Mão em Garra: Os dedos anelar e mínimo ficam dobrados e não esticam (comum na lesão do nervo ulnar).
Perda de Oposição: O paciente não consegue encostar o polegar na ponta dos outros dedos.
Diagnóstico
O diagnóstico para indicar a cirurgia é clínico e minucioso. O cirurgião precisa fazer um “inventário” dos músculos que funcionam e dos que não funcionam.
Para isso, é necessário confirmar que a paralisia é irreversível e que as articulações estão flexíveis. Exames complementares são fundamentais:
Eletroneuromiografia (ENMG): Essencial para confirmar que o nervo ou músculo original não tem mais chance de recuperação espontânea.
Raio-X: Para garantir que as articulações (“juntas”) não têm artrose ou bloqueios ósseos que impediriam o movimento mesmo com o novo tendão.
Tratamento
Antes de pensar na cirurgia, existe uma preparação importante. O tratamento conservador foca em manter a mão pronta para receber o novo tendão.
Fisioterapia / Terapia da Mão: O objetivo principal antes da cirurgia é garantir que as articulações estejam moles e flexíveis. Um tendão transferido não tem força para mover um dedo duro ou rígido.
Uso de Órteses: Talas podem ser usadas para prevenir deformidades enquanto se aguarda o momento da cirurgia.
Aguardar o Tempo Certo: Em lesões nervosas, geralmente aguarda-se de 6 meses a 1 ano para ter certeza de que não haverá recuperação espontânea antes de propor a transferência.
Cirurgia
A cirurgia é realizada quando a paralisia é definitiva. O princípio é usar um músculo “doador” que seja dispensável ou que tenha um substituto (sinergista), para não causar falta em outra função.
O Procedimento: O cirurgião faz incisões na pele para soltar o tendão saudável, passá-lo por um novo caminho (túnel subcutâneo) e costurá-lo no tendão paralisado ou diretamente no osso. A tensão da costura deve ser exata.
Anestesia: O procedimento é realizado geralmente com bloqueio local ou periférico (o braço fica dormente), associado a uma sedação leve ou máscara laríngea. O paciente recebe alta no mesmo dia.
Pós-operatório: O paciente sai da sala com uma imobilização (gesso ou tala) que deve ser mantida rigorosamente para proteger a sutura do tendão.
Prognóstico e Recuperação
O sucesso da transferência tendínea depende tanto da cirurgia quanto da reabilitação.
Imobilização: A mão fica imobilizada por cerca de 4 a 6 semanas.
Cicatrização: Os pontos da pele são retirados com 14 dias.
Reabilitação (A Fase Mágica): Após retirar o gesso, começa a Terapia da Mão. É aqui que acontece a reeducação cortical. O paciente precisa “ensinar” o cérebro. Por exemplo: para esticar o dedo, o paciente pode ter que pensar em “fechar a mão” inicialmente, até que o cérebro automatize o novo movimento.
Resultado: A cirurgia não devolve a força 100% normal, mas restaura a função e a independência para atividades do dia a dia.
Quando Procurar o Especialista
Se você teve uma lesão de nervo ou tendão e perdeu o movimento, não aceite o diagnóstico de que “não tem mais jeito” sem consultar um especialista.
Procure um Cirurgião de Mão se:
Você tem uma “mão caída” ou em garra após um acidente ou corte.
Já se passou mais de 6 meses ou 1 ano de uma lesão nervosa e o movimento não voltou.
Você tem dificuldade para abrir a mão ou segurar objetos devido a uma paralisia antiga.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Vou perder o movimento do músculo que foi mudado de lugar? Não exatamente. O cirurgião escolhe um músculo “redundante” (que tem outro músculo que faz a mesma função). Por exemplo, podemos usar um tendão para esticar os dedos sem que você perca a força para dobrar o punho.
É difícil aprender a usar o “novo” tendão? No começo exige concentração, mas o cérebro humano é incrivelmente plástico. Com a terapia da mão, o movimento se torna automático em alguns meses e você deixa de “pensar” para mover.
Quanto tempo demora a recuperação total? Geralmente, são 4 semanas de imobilização seguidas de 3 a 6 meses de fisioterapia para ganho de força e coordenação.
Existe limite de idade para fazer? Não há limite rígido de idade, mas o paciente precisa ser capaz de entender e colaborar com a reabilitação pós-operatória.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
