Transferência de Dedo do Pé para a Mão
Perder um dedo, especialmente o polegar, é uma situação devastadora que compromete a capacidade de pegar objetos, trabalhar e realizar tarefas simples do dia a dia. A transferência de um dedo do pé para a mão é uma das cirurgias mais fascinantes e transformadoras da medicina, devolvendo ao paciente a capacidade de pinça e a força de preensão.
Embora a ideia possa parecer estranha inicialmente, é a melhor forma de substituir um polegar perdido, utilizando os próprios tecidos do paciente (“peças de reposição”) para restaurar a função da mão.

O Que É?
A Transferência de Dedo do Pé para a Mão é um procedimento de microcirurgia reconstrutiva. Consiste em retirar um dedo do pé (geralmente o “dedão” ou o segundo dedo) e transplantá-lo para a mão para substituir um dedo amputado.
Não é apenas uma questão estética. O cirurgião reconecta tudo:
Osso: Para dar estrutura.
Tendões: Para permitir o movimento (dobrar e esticar).
Nervos: Para devolver a sensibilidade.
Artérias e Veias: Para manter o dedo vivo.
É, literalmente, um autotransplante. O novo dedo passa a funcionar como parte integrante da mão, permitindo que o paciente volte a segurar uma caneta, abotoar uma camisa ou usar ferramentas.
Causas e Fatores de Risco
Esta cirurgia não é indicada para todos os casos, mas é o “padrão-ouro” para situações específicas onde a função da mão está gravemente comprometida.
As principais causas e indicações incluem:
Amputação Traumática do Polegar: Como o polegar representa 50% da função da mão, perdê-lo é incapacitante. O dedo do pé é a melhor substituição possível.
Acidentes de Trabalho: Prensas, serras ou explosões que causam a perda de múltiplos dedos.
Defeitos Congênitos: Crianças que nascem sem dedos (agenesia) ou com deformidades graves, como na Síndrome da Banda Amniótica.
Falha de Reimplante: Quando um dedo amputado não pôde ser reimplantado na hora do acidente, a transferência pode ser feita meses depois.
Sintomas Mais Comuns
O paciente candidato a essa cirurgia geralmente enfrenta limitações severas:
Perda da Pinça: Incapacidade de segurar objetos pequenos entre o polegar e o indicador.
Dificuldade de Preensão: Objetos maiores escorregam da mão por falta de contra-apoio.
Impacto Psicológico: Vergonha de mostrar a mão ou dificuldade de adaptação social.
Dor Fantasma ou Neuroma: Em casos traumáticos, a cicatriz da amputação pode ser dolorosa e sensível.
Diagnóstico
O “diagnóstico” aqui é um planejamento cirúrgico minucioso para avaliar se o paciente tem condições de receber o transplante.
Exame Físico: O médico avalia a qualidade da pele no coto da mão e a circulação do pé.
Angiotomografia ou Arteriografia: Exames fundamentais que “desenham” o mapa dos vasos sanguíneos. Precisamos ter certeza de que as artérias do pé e da mão são compatíveis para serem conectadas.
Raio-X: Para medir o tamanho dos ossos e planejar a fixação.
Tratamento
A decisão de realizar a transferência envolve uma conversa detalhada sobre riscos e expectativas.
Preparo: O paciente deve parar de fumar (o cigarro é o maior inimigo da microcirurgia) e estar com a saúde em dia.
Terapia Ocupacional Pré-operatória: Ajuda a preparar a mão e reduzir a sensibilidade da cicatriz antes da cirurgia.
Alternativas: Em alguns casos, pode-se optar pela “policização” (transformar o dedo indicador em polegar) ou uso de próteses estéticas (que não têm movimento).
Cirurgia
A cirurgia é de alta complexidade, realizada com microscópio.
A Escolha do Dedo:
Hálux (Dedão do pé): Usado para reconstruir o polegar, pois é forte e esteticamente parecido em largura. Às vezes, retiramos apenas parte dele (envoltório) para preservar o osso do pé.
Segundo Dedo do Pé: Usado para substituir dedos longos da mão ou o polegar quando se quer evitar mexer no dedão.
O Procedimento:
O cirurgião disseca o dedo do pé com seus vasos, nervos e tendões.
O dedo é transferido para a mão e fixado com fios metálicos ou placas.
Realiza-se a conexão das artérias, veias e nervos (suturas mais finas que um fio de cabelo).
Anestesia: Devido à longa duração (6 a 10 horas), utiliza-se geralmente anestesia geral, podendo ser associada a bloqueios periféricos para controle da dor no pós-operatório.
Prognóstico e Recuperação
A recuperação é um processo longo, mas recompensador.
Internação: O paciente fica no hospital por 3 a 5 dias para monitorar a circulação do novo dedo.
Pé Doador: A cicatrização do pé permite andar normalmente. A retirada do segundo dedo é pouco perceptível; a do dedão exige adaptação, mas não impede a marcha ou corrida recreativa.
Pontos: São retirados geralmente após 14 a 21 dias.
Reabilitação: A fisioterapia é intensa. O osso cola em 6 a 8 semanas, mas a sensibilidade demora meses para retornar (o nervo cresce lentamente). O cérebro precisa “aprender” que aquele dedo agora está na mão.
Quando Procurar o Especialista
Se você perdeu um dedo e sente falta da função da mão.
Procure um Microcirurgião de Mão se:
Você sofreu uma amputação de polegar e não se adaptou.
Perdeu múltiplos dedos em um acidente.
Seu filho nasceu com ausência de dedos e tem dificuldade para pegar brinquedos.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Vou mancar ou ter dificuldade para andar? Geralmente não. Se for retirado o segundo dedo, a marcha é normal. Se for retirado o dedão (ou parte dele), pode haver uma alteração leve no equilíbrio inicial, mas a grande maioria dos pacientes volta a andar, correr e praticar esportes recreativos sem dificuldades.
O dedo na mão vai parecer um dedo de pé? Anatomicamente sim, mas esteticamente o resultado é bastante aceitável. Com o tempo, o inchaço diminui e o dedo se adapta. Além disso, cirurgias de “retoque” plástico podem ser feitas depois para melhorar a aparência (afinar o dedo e a unha).
Vou conseguir mexer o novo dedo? Sim. Os tendões do pé são costurados nos músculos do antebraço. Com o treinamento na fisioterapia, o cérebro aprende a controlar o movimento, permitindo pegar objetos e fazer pinça.
Existe risco de o corpo rejeitar? Não existe rejeição imunológica (como em transplante de órgãos), pois o dedo é seu. O risco que existe é de trombose nos vasinhos conectados, o que pode comprometer a circulação do dedo. Por isso o monitoramento nos primeiros dias é intenso.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
