Reimplante de Dedo

A amputação traumática de um dedo ou da mão é uma situação dramática e de extrema urgência. No entanto, com os avanços da microcirurgia, é possível, em muitos casos, reimplantar o membro e recuperar sua função. O sucesso do procedimento depende diretamente dos cuidados imediatos com a parte amputada e da rapidez no atendimento.

Ilustração de Reimplante de Dedo, detalhando reparo de nervos, artérias e tendão com microcirurgia.

O Que É?

O Reimplante é a cirurgia para reconectar uma parte do corpo que foi totalmente separada (amputada). Não se trata apenas de “costurar a pele”.

 

Para que o dedo ou a mão sobrevivam, o cirurgião precisa reconectar estruturas microscópicas vitais:

  • Ossos: Para dar estrutura.

  • Tendões: Para permitir o movimento.

  • Artérias: Para levar sangue oxigenado.

  • Veias: Para drenar o sangue e evitar inchaço.

  • Nervos: Para recuperar a sensibilidade.

Embora o foco deste texto seja o reimplante de dedo, a técnica também se aplica a mãos e braços. Uma regra importante da medicina é: quanto mais “alta” a amputação (braço ou antebraço), mais urgente é a cirurgia, pois os músculos morrem muito rápido sem sangue. Dedos toleram um tempo um pouco maior sem circulação.

Causas e Fatores de Risco

As causas são sempre traumáticas e dividem-se em dois tipos principais, o que influencia muito na decisão de operar:

  • Corte Limpo (Guilhotina): Causado por facas, vidros, serras afiadas ou lâminas industriais. O corte é preciso, preservando os tecidos vizinhos. Têm as melhores chances de sucesso.

  • Esmagamento ou Avulsão (Arrancamento): Causado por prensas, correias, explosões ou anéis que prendem e arrancam o dedo. Nesses casos, os vasos e nervos são “esticados” e danificados internamente, tornando o reimplante muito mais difícil ou até contraindicado.

Sintomas Mais Comuns

No momento do acidente, o cenário é de emergência médica:

  • Hemorragia: Sangramento que pode ser intenso, especialmente em amputações da mão.

  • Dor e Choque: A dor é severa, mas o paciente pode entrar em estado de choque devido ao trauma.

  • Perda Funcional: Ausência da parte do corpo.

Atenção: O controle do sangramento deve ser feito com compressão direta (apertar o local com pano limpo). Evite torniquetes (garrotes) a menos que o sangramento ameace a vida, pois eles podem danificar ainda mais os tecidos que restaram.

Diagnóstico

O diagnóstico é visual, mas a decisão de tentar o reimplante envolve uma avaliação complexa feita pelo Microcirurgião de Mão.

  • Exame Físico: O médico examina o “coto” (o que sobrou na mão) e a “peça” (o dedo amputado) usando um microscópio ou lupas para ver se as artérias e veias têm condições de serem costuradas.

  • Raio-X: Essencial para ver o nível da fratura óssea e se há perda de osso.

Nem tudo deve ser reimplantado. O médico avalia se o reimplante trará uma mão funcional ou um dedo rígido e doloroso que só atrapalha. Geralmente, prioriza-se o reimplante de polegares, crianças e amputações de múltiplos dedos.

Tratamento

O tratamento começa no local do acidente. O transporte correto da parte amputada é vital:

  1. Lave a peça amputada suavemente com soro fisiológico ou água limpa (se estiver muito suja).

  2. Envolva a peça em uma gaze ou pano limpo úmido (soro ou água).

  3. Coloque a peça embrulhada dentro de um saco plástico fechado e vedado.

  4. Coloque esse saco dentro de um segundo recipiente com água e gelo.

NUNCA coloque o dedo diretamente no gelo. Isso danifica os tecidos e inviabiliza a cirurgia. O objetivo é manter resfriado (cerca de 4°C), não congelado.

Cirurgia

A cirurgia de reimplante é um procedimento de alta complexidade, demorado (pode levar muitas horas) e realizado com microscópio.

 

Etapas do Reimplante:

  1. Limpeza (Desbridamento): Remoção de tecidos mortos e sujeira.

  2. Fixação Óssea: O osso é encurtado levemente e fixado com fios de metal (fios de Kirschner) para dar estabilidade.

  3. Reparo dos Tendões: Costura dos tendões extensores e flexores.

  4. Microcirurgia Vascular: É a parte mais delicada. O cirurgião reconecta as artérias (para o dedo ficar rosa) e as veias (para o dedo não ficar roxo/inchado) usando fios mais finos que um fio de cabelo.

  5. Reparo dos Nervos: Para tentar recuperar a sensibilidade.

A anestesia pode ser geral ou bloqueio de plexo (no braço) com sedação, dependendo do tempo previsto de cirurgia.

Prognóstico e Recuperação

O pós-operatório é crítico. O paciente geralmente fica internado por alguns dias para monitorar a circulação do dedo.

  • Risco de Falha: Mesmo com a cirurgia perfeita, vasos podem “entupir” (trombose) nas primeiras 72 horas, exigindo nova cirurgia ou levando à perda do reimplante.

  • Retirada de Pontos: Ocorre geralmente após 14 a 21 dias.

  • Reabilitação: A Terapia da Mão é longa e obrigatória. O dedo reimplantado nunca será um dedo “normal”. Ele terá alguma limitação de movimento e a sensibilidade será menor.

  • Intolerância ao Frio: É a sequela mais comum. O dedo reimplantado tende a doer no inverno.

Amputações Proximais (Mão/Braço): São muito mais graves. O músculo não tolera falta de sangue por mais de 4 a 6 horas. Se demorar muito, o reimplante pode liberar toxinas no sangue do paciente (síndrome de reperfusão), sendo perigoso para a vida. Já dedos (que não têm músculo) podem tolerar até 12-24h se bem conservados no frio.

Quando Procurar o Especialista

Esta é uma emergência médica absoluta.

 

Dirija-se imediatamente a um Hospital com Serviço de Cirurgia da Mão e Microcirurgia. Não perca tempo em postos de saúde básicos que não tenham estrutura cirúrgica. O tempo é o fator mais importante para o sucesso.

Dúvidas Frequentes (FAQ)

Todo dedo cortado pode ser reimplantado? Não. Dedos muito esmagados, avulsões graves (arrancamento de nervos desde o braço) ou pontinhas de dedo muito pequenas (onde não há vasos para costurar) geralmente não são candidatos a reimplante.

 

Posso colocar o dedo no álcool ou formol? Jamais! Isso mata as células instantaneamente e torna o reimplante impossível. Use apenas soro fisiológico ou água limpa e mantenha refrigerado (indiretamente).

 

O dedo vai voltar a mexer normal? Dificilmente volta a ser 100%. O objetivo é ter sensibilidade protetora e movimento útil para pinça (pegar objetos). A recuperação dos nervos é lenta (1 mm por dia) e pode levar meses.

 

Quanto tempo tenho para chegar ao hospital? Para dedos, o ideal é operar dentro de 6 a 12 horas (se refrigerado, pode-se estender até 24h em alguns casos). Para mãos e braços, o tempo é curtíssimo: o ideal é menos de 4 a 6 horas.

Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.