Outras Deformidades Congênitas da Mão

Descobrir que um filho nasceu com uma diferença na mão pode gerar muitas dúvidas e ansiedade nos pais. Embora condições como a Polidactilia (dedos a mais) e a Sindactilia (dedos colados) sejam as mais conhecidas, existe um grupo de deformidades menos comuns, mas que também possuem tratamento especializado.

 

O objetivo do tratamento nessas condições complexas é sempre priorizar a função da mão, permitindo que a criança brinque, aprenda e se desenvolva com independência.

Esquema visual de malformações congênitas da mão: Mão em Fenda, Macrodactilia e Mão Torta Radial.

O Que É?

As Deformidades Congênitas da Mão são alterações na formação dos membros superiores que ocorrem durante o desenvolvimento do bebê dentro do útero (principalmente entre a 4ª e a 8ª semana de gestação).

 

Elas podem variar desde pequenos desvios nos dedos, como na Clinodactilia e Camptodactilia, até a ausência completa de ossos e dedos.

 

Nesta página, abordaremos especificamente cinco condições que exigem acompanhamento detalhado:

  1. Deficiência Longitudinal Radial (Mão Torta Radial)

  2. Mão Fendida (Ectrodactilia)

  3. Macrodactilia (Gigantismo Digital)

  4. Simbraquidactilia

  5. Deformidade de Madelung

Causas e Fatores de Risco​

Na maioria dos casos, essas malformações ocorrem de forma esporádica, ou seja, “ao acaso”, sem que os pais tenham feito algo errado ou tenham culpa.

  • Genética: Algumas condições, como a Mão Fendida, podem ter caráter hereditário (passar de pai para filho).

  • Interrupção Vascular: Teorias sugerem que pequenos problemas na circulação do embrião impedem a formação completa de uma parte da mão (comum na Simbraquidactilia).

  • Síndromes: Algumas deformidades, especialmente a Deficiência Radial, podem estar associadas a problemas no coração ou nos rins, exigindo uma investigação pediátrica completa.

Sintomas Mais Comuns

Cada condição tem uma apresentação visual muito característica:

  • Deficiência Longitudinal Radial (Mão Torta Radial): A criança nasce com o punho desviado para dentro (em direção ao polegar) e o antebraço curto. Isso ocorre porque o osso Rádio não se formou ou é muito pequeno. Frequentemente, está associada à Hipoplasia ou Agenesia do Polegar.

  • Mão Fendida (Ectrodactilia): Caracteriza-se pela ausência dos dedos centrais (médio e/ou indicador), criando uma fenda em “V” no centro da mão.

  • Macrodactilia: É o crescimento exagerado e progressivo de um ou mais dedos. O dedo afetado cresce muito mais rápido que os outros, podendo ficar gigante e pesado devido ao excesso de gordura e nervos espessados.

  • Simbraquidactilia: A criança apresenta dedos subdesenvolvidos e mais curtos, ou a ausência de alguns dígitos, que podem ser representados apenas por pequenos segmentos de pele ou tecido mole. Diferente da Síndrome da Banda Amniótica (que é uma amputação por constrição), aqui os dedos não chegaram a se formar completamente.

  • Deformidade de Madelung: Diferente das outras, essa deformidade costuma ser notada na adolescência (entre 10 e 14 anos), principalmente em meninas. Ocorre um crescimento anormal da cartilagem do punho, fazendo com que o osso da ulna fique saliente no dorso do punho e a mão desvie, causando dor e limitação.

Diagnóstico​

O diagnóstico é clínico, feito logo após o nascimento (exceto na Madelung).

  • Exame Físico: O cirurgião de mão avalia quais dedos estão presentes, se há movimento ativo e como a criança usa a mão para pegar objetos.

  • Raio-X: Fundamental para ver a estrutura óssea que existe por baixo da pele.

  • Investigação Sistêmica: Em casos como a Deficiência Radial, solicitamos ultrassom renal e ecocardiograma para descartar síndromes associadas (como VACTERL ou Holt-Oram).

Tratamento

O tratamento é individualizado e focado na função. A estética é importante, mas a capacidade da criança de usar a mão vem em primeiro lugar.

  • Observação e Adaptação: Em casos leves ou onde a mão é funcional, o tratamento pode ser apenas acompanhamento e Terapia Ocupacional.

  • Órteses e Talas: Muito usadas na Mão Torta Radial para tentar alongar as partes moles encurtadas do punho antes da cirurgia.

  • Decisão Cirúrgica: A cirurgia é indicada quando a deformidade atrapalha a pinça (pegar objetos), causa dor ou impede o uso do membro.

Cirurgia

As técnicas variam imensamente conforme a patologia:

  • Centralização do Punho: Na Mão Torta Radial, reposicionamos o punho sobre o osso da ulna para alinhar a mão.

  • Fechamento da Fenda: Na Mão Fendida, a cirurgia aproxima os dedos para fechar o “V” e melhorar a estética e função.

  • Redução Volumétrica/Epifisiodese: Na Macrodactilia, realizamos a retirada de gordura e o bloqueio da placa de crescimento para tentar frear o aumento do dedo.

  • Osteotomias: Na Deformidade de Madelung, cortamos e realinhamos o osso do rádio para corrigir a dor no punho.

A maioria das cirurgias congênitas é realizada sob anestesia geral, geralmente a partir dos 12 a 18 meses de vida (ou na adolescência, no caso de Madelung).

Prognóstico e Recuperação

Crianças têm uma neuroplasticidade incrível (capacidade do cérebro de se adaptar).

  • Adaptação: Mesmo sem cirurgia, muitas crianças desenvolvem maneiras próprias e surpreendentes de realizar todas as tarefas.

  • Pós-operatório: Envolve o uso de gesso ou talas por algumas semanas.

  • Cicatrizes: Fazem parte do processo reconstrutivo e tendem a melhorar com o crescimento.

  • Acompanhamento: É feito até o fim do crescimento esquelético (16-18 anos), pois deformidades podem recidivar ou mudar conforme a criança cresce.

Quando Procurar o Especialista​

O ideal é que a avaliação seja feita logo nos primeiros meses de vida.

 

Procure um Cirurgião de Mão Pediátrica se:

  • Seu bebê nasceu com qualquer diferença no formato, tamanho ou número de dedos.

  • O punho da criança parece desviado ou “torto”.

  • Seu filho adolescente reclama de dor no punho e você nota um ossinho saliente no dorso.

  • O dedo da criança parece não esticar (o que pode ser um Polegar em Gatilho Congênito).

Dúvidas Frequentes (FAQ)

A culpa é minha (dos pais)? Não. A imensa maioria dessas malformações são eventos biológicos aleatórios que ocorrem nas primeiras semanas de gestação. Não foi algo que você comeu, fez ou deixou de fazer.

 

Quando é a melhor idade para operar? Para a maioria das deformidades congênitas (como mão torta ou mão fendida), a cirurgia é recomendada entre 1 e 2 anos de idade, antes que a criança estabeleça seus padrões cerebrais de uso da mão. A exceção é a Deformidade de Madelung, operada na adolescência.

 

A mão vai ficar “normal”? O objetivo é deixar a mão funcional e esteticamente agradável. É importante alinhar expectativas: a cirurgia melhora muito a qualidade de vida, mas a mão sempre terá características únicas.

 

Meu filho vai conseguir escrever e brincar? Sim. Crianças com diferenças nos membros são extremamente adaptáveis e resilientes. Com ou sem cirurgia, a grande maioria leva uma vida escolar e social plena.

Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.