Osteomielite
A Osteomielite é o termo médico para a infecção do tecido ósseo. Trata-se de uma condição grave que pode acometer qualquer osso do esqueleto (como fêmur, tíbia ou coluna), sendo uma complicação temida em qualquer parte do corpo devido à dificuldade de tratamento.
No contexto específico das mãos e punhos, ela ocorre frequentemente como consequência de fraturas expostas, mordidas ou ferimentos profundos, exigindo uma combinação agressiva de cirurgia e antibióticos para evitar sequelas.

O Que É?
A Osteomielite é a invasão e multiplicação de bactérias (ou fungos) dentro do osso.
O osso é uma estrutura rígida e viva. Quando a infecção se instala, ela causa inflamação intensa, aumento da pressão interna e morte das células ósseas (necrose). Esse osso morto, chamado de sequestro ósseo, perde a circulação sanguínea e funciona como um “esconderijo” para as bactérias, onde os antibióticos não conseguem penetrar.
Na Mão e Punho: Enquanto em outras partes do corpo a infecção pode chegar pelo sangue (comum em crianças), na mão a causa é quase sempre externa (inoculação direta). As falanges (ossos dos dedos) são muito superficiais, tornando-as alvos fáceis para bactérias que entram por cortes ou traumas.
Causas e Fatores de Risco
Na mão, a osteomielite raramente acontece “do nada”. Ela geralmente é consequência de um evento anterior.
Principais causas:
Fraturas Expostas: Quando o osso quebrado rasga a pele e entra em contato com o ambiente externo.
Mordidas: Infecções por mordidas de animais ou humanas são causas frequentes de osteomielite nos dedos, pois os dentes inoculam bactérias profundas que atingem o osso.
Complicação de Cirurgias: Embora raro, pode ocorrer infecção após a colocação de pinos ou placas.
Flegmão não tratado: Um Flegmão da Mão (infecção nos tecidos moles) que demora a ser drenado pode se alastrar para o osso vizinho.
Fatores de risco incluem Diabetes, tabagismo e imunidade baixa.
Sintomas Mais Comuns
A osteomielite pode ser aguda (sintomas fortes e rápidos) ou crônica (sintomas arrastados por meses).
Dor Profunda: Uma dor óssea, constante, que não melhora com repouso.
Fístula (Vazamento de Pus): É o sinal clássico da osteomielite crônica. Um pequeno “buraquinho” na pele que drena pus ou secreção amarelada constantemente e nunca cicatriza.
Inchaço e Vermelhidão: O dedo ou punho fica inchado e quente (“dedo em salsicha”).
Rigidez: Dificuldade para dobrar a articulação próxima à infecção.
Febre: Mais comum na fase aguda.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce é vital para evitar a perda de grandes segmentos ósseos.
Exames de Sangue: Hemograma e marcadores inflamatórios (VHS e PCR) ajudam a monitorar a atividade da infecção.
Raio-X: Nas fases iniciais pode ser normal. Em fases avançadas, mostra destruição óssea, “roído” de traça ou osso morto (sequestro).
Ressonância Magnética: É o exame mais sensível para detectar a infecção no início (edema ósseo) e ver a extensão nos tecidos moles.
Cintilografia Óssea: Usada em casos de dúvida diagnóstica.
Tratamento
A osteomielite não se cura apenas com comprimidos. O tratamento baseia-se em dois pilares: Cirurgia + Antibióticos de longa duração.
Antibioticoterapia: Geralmente inicia-se na veia (durante a internação) e segue-se com medicação oral por um período longo, que varia de 4 a 6 semanas ou mais.
Câmara Hiperbárica: Em alguns casos complexos, pode ser usada como auxílio para melhorar a oxigenação dos tecidos.
No entanto, o remédio só funciona se o foco principal (o osso morto) for removido cirurgicamente.
Cirurgia
A cirurgia é fundamental para limpar o foco da infecção.
Limpeza Cirúrgica (Desbridamento): O cirurgião remove todo o tecido ósseo morto e infectado. Às vezes, é necessário “raspar” o osso até chegar em uma parte com sangramento saudável (sinal de vida).
Coleta de Culturas: Este é o passo mais importante. Durante a cirurgia, coletamos pedaços do osso e secreção para exame de cultura. Isso identifica exatamente qual bactéria está causando o problema e qual antibiótico a mata.
Retirada de Material: Se a infecção estiver sobre uma placa ou parafuso antigo, geralmente é necessário retirar esse material (implantes).
Reconstrução: Se sobrar um “buraco” ósseo após a limpeza, pode ser necessário realizar enxertos ósseos ou Retalhos Microcirúrgicos em um segundo momento, quando a infecção estiver curada.
A cirurgia é realizada geralmente com bloqueio local ou periférico (o membro superior fica dormente), associado a uma sedação leve ou máscara laríngea.
Prognóstico e Recuperação
O tratamento é uma maratona, não uma corrida de 100 metros.
Cicatrização: A ferida pode ser deixada aberta para fechar sozinha ou com curativos especiais, dependendo da gravidade.
Pontos: Se houver sutura, os pontos são retirados após 14 dias ou mais.
Recuperação: A cura é possível, mas o risco de recidiva (o problema voltar) existe se a limpeza não for completa.
Sequelas: Pode haver rigidez articular ou encurtamento do dedo, dependendo de quanto osso precisou ser removido.
Quando Procurar o Especialista
Feridas que não fecham são o maior sinal de alerta.
Procure um Cirurgião de Mão se:
Você tem um ferimento no dedo que drena pus há semanas e não fecha.
Teve uma fratura exposta ou cirurgia óssea e a dor voltou a piorar.
O dedo está inchado, vermelho e quente de forma persistente.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Osteomielite tem cura? Sim, é curável, mas exige tratamento agressivo. Em casos crônicos (antigos), o tratamento é mais difícil e pode exigir múltiplas cirurgias para remover todo o osso morto.
Vou perder o dedo (amputação)? A amputação é o último recurso, reservada para casos onde a infecção destruiu tanto o osso e os tecidos que o dedo perdeu a função ou quando a infecção coloca a vida do paciente em risco (sepse). A maioria dos casos é tratada com preservação do membro.
Por que preciso tomar antibiótico por tanto tempo? O osso é um tecido duro e com circulação lenta. O antibiótico demora para penetrar e atingir concentrações altas lá dentro. É preciso manter a medicação por 4 a 6 semanas para garantir que todas as bactérias, inclusive as mais profundas, sejam eliminadas.
A infecção passa para outras pessoas? Não. A osteomielite não é contagiosa. Você pode conviver com sua família normalmente durante o tratamento.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
