Luxação do Dedo
A luxação do dedo é uma lesão impressionante e dolorosa, muito comum em esportes e acidentes domésticos. Ela ocorre quando os ossos que formam uma articulação (“junta”) se separam completamente, perdendo o contato entre si.
Embora a vontade imediata seja “puxar o dedo para o lugar”, o tratamento correto vai muito além disso e é essencial para evitar rigidez e dor crônica.

O Que É?
Uma Luxação acontece quando a estrutura da articulação falha e os ossos se desalinham completamente. Imagine uma porta que saiu das dobradiças: ela não abre nem fecha. O mesmo ocorre com o dedo.
Atenção ao termo popular (“Foi só uma luxação”): É muito importante esclarecer uma confusão comum. No dia a dia, muitas pessoas usam a frase “foi só uma luxação” para descrever uma batida leve, um inchaço ou um “mau jeito”. Em termos técnicos, isso está incorreto. O termo para um estiramento leve é Entorse. A Luxação verdadeira é uma lesão grave, onde a articulação se desfaz e os ossos perdem o contato um com o outro. Não existe “luxação leve”; se luxou, a estrutura da mão sofreu um dano importante.
Para que isso ocorra, é necessário que os ligamentos (as fitas que seguram os ossos juntos) e a placa volar (um reforço na parte da frente da junta) sofram uma ruptura ou estiramento severo.
Causas e Fatores de Risco
A causa é quase sempre um trauma.
Esportes com Bola: É a causa número um. No basquete, vôlei ou futebol (goleiros), a bola bate na ponta do dedo esticado, forçando-o para trás (hiperextensão).
Quedas: Apoiar a mão de mau jeito no chão.
Prender o dedo: Enroscar o dedo na roupa de alguém (comum em judô ou jiu-jitsu) ou na coleira do cachorro.
Fatores de Risco: Pessoas com hiperfrouxidão ligamentar (articulações muito flexíveis) têm maior facilidade em sofrer luxações.
Sintomas Mais Comuns
Os sinais são imediatos e óbvios:
Deformidade: O dedo fica visivelmente torto, angulado ou girado. É o sinal mais claro de que o osso saiu do lugar.
Incapacidade de Movimento: O dedo “trava”. Você não consegue dobrar ou esticar a articulação afetada.
Dor Intensa: A dor é aguda no momento do trauma.
Inchaço (Edema): O dedo incha rapidamente após a lesão.
Pele Pálida ou Roxa: Se a luxação comprimir os vasos sanguíneos, a ponta do dedo pode mudar de cor (sinal de urgência).
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico (visual), mas o exame de imagem é indispensável.
Raio-X (Antes da Redução): É obrigatório. Precisamos saber se é “apenas” uma luxação ou se existe uma fratura associada (fratura-luxação). Puxar um dedo quebrado sem saber pode piorar a lesão.
Raio-X (Pós-Redução): Após colocar o dedo no lugar, repetimos o Raio-X para garantir que a articulação está perfeitamente alinhada (concêntrica).
Teste de Estabilidade: Após colocar o dedo no lugar e descartar fraturas, o médico testa os ligamentos para ver se a articulação está firme ou se “samba” (instável).
Tratamento
O tratamento deve ser rápido. Quanto mais tempo o dedo fica fora do lugar, mais difícil é a redução e maior o dano à cartilagem.
1. Redução (Colocar no lugar): Deve ser feita por um médico. É realizada uma manobra técnica para realinhar os ossos. Muitas vezes, é necessário anestesiar o dedo antes para relaxar a musculatura e evitar dor.
2. Tratamento Conservador (Pós-Redução): Se a articulação estiver estável após ser colocada no lugar:
Imobilização Solidária (Buddy Taping): Prendemos o dedo machucado ao dedo vizinho saudável com uma fita. O dedo vizinho funciona como uma “tala dinâmica”, permitindo o movimento mas impedindo que o dedo machucado sofra novos traumas.
Talas Metálicas: Usadas por curto período (poucos dias) se houver muita dor ou inchaço, mas devem ser retiradas logo para iniciar o movimento.
A regra de ouro na luxação simples é: movimento precoce. Deixar o dedo parado por muito tempo causa rigidez permanente.
Cirurgia
A cirurgia é necessária em situações mais complexas:
Luxação Irredutível: Quando o médico não consegue colocar o dedo no lugar (geralmente porque um tendão ou ligamento entrou no meio da articulação e está bloqueando o retorno).
Fratura-Luxação: Quando, além de sair do lugar, um pedaço do osso quebrou junto.
Instabilidade Grave: Quando o dedo volta para o lugar, mas sai de novo com qualquer movimento (ligamentos totalmente rompidos).
Luxações Crônicas: Lesões antigas não tratadas.
O procedimento pode envolver a reparação dos ligamentos, a limpeza da articulação ou a fixação com fios/pinos temporários. É realizado com bloqueio local ou periférico (braço dormente) e sedação.
Prognóstico e Recuperação
O prognóstico é bom para a função, mas o paciente deve alinhar as expectativas estéticas.
Inchaço Persistente: É muito comum que a “junta” do dedo fique inchada ou mais grossa por muitos meses (às vezes para sempre), mesmo sem dor. Isso é uma reação normal do corpo (fibrose).
Rigidez: É a principal sequela. Por isso a Terapia da Mão (Fisioterapia) é iniciada quase imediatamente.
Pontos: Se houver cirurgia, os pontos são retirados com 14 dias.
Quando Procurar o Especialista
Procure um Pronto-Socorro ou Especialista imediatamente se:
Seu dedo está torto ou travado após uma batida.
Você “puxou” o dedo no lugar em casa, mas ele continua inchado e dolorido (pode haver uma fratura oculta).
Sente formigamento ou a ponta do dedo está ficando roxa/pálida.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Posso pedir para alguém puxar meu dedo no lugar na hora do jogo? Não é recomendado. Se houver uma fratura associada, puxar pode deslocar o fragmento ósseo, prender um nervo ou transformar uma lesão simples em cirúrgica. O ideal é proteger e ir ao hospital.
Quanto tempo demora para o dedo desinchar? Demora muito. O inchaço da luxação (“edema fusiforme”) pode levar de 6 meses a 1 ano para sumir totalmente, e muitas vezes a articulação fica permanentemente mais larga (grossa), embora funcional e sem dor.
Quando posso voltar a jogar? Geralmente entre 6 a 8 semanas, mas usando uma proteção (esparadrapo unindo ao dedo vizinho) por até 3 meses, pois os ligamentos demoram para cicatrizar totalmente.
O dedo pode sair do lugar de novo? Sim. Uma vez que os ligamentos foram alongados ou rompidos, a articulação pode ficar ligeiramente mais frouxa, facilitando novas luxações se não houver reabilitação muscular adequada.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
