Lesão do Ligamento Escafossemilunar

Você caiu sobre a mão e, mesmo semanas depois, sente uma dor no meio do punho ao fazer flexão de braço ou se apoiar para levantar? Isso pode não ser apenas uma “torção”, mas sim uma lesão no Ligamento Escafossemilunar.

 

Este é o ligamento mais importante do punho e sua ruptura, se não tratada, pode levar a um desgaste grave da articulação a longo prazo.

Ilustração médica da lesão do ligamento escafossemilunar, mostrando ruptura e diástase no punho.

O Que É?

O Ligamento Escafossemilunar é uma pequena, mas poderosa fita de tecido que conecta dois ossos fundamentais do carpo (punho): o Escafoide e o Semilunar.

 

Imagine que os ossos do punho são pedras de um arco romano. Esse ligamento funciona como o cimento que mantém essas duas “pedras” unidas e se movendo em sincronia. Se o ligamento se rompe, os ossos se afastam (abrem um espaço, chamado de diástase), e o punho perde sua estabilidade mecânica, fazendo com que os ossos “sambem” lá dentro.

Causas e Fatores de Risco​

A causa mais frequente é traumática.

  • Queda sobre a mão espalmada: É o mecanismo clássico. Ao cair, o peso do corpo força o punho para trás (extensão), rompendo o ligamento. É o mesmo tipo de queda que causa a fratura do escafoide.

  • Esportes: Skate, futebol, ciclismo e motocross são atividades de risco devido à alta energia dos impactos.

  • Traumas de torção: Menos comum, mas uma torção súbita e violenta (como uma furadeira travando) pode causar a lesão.

Sintomas Mais Comuns

Muitas vezes, a lesão é confundida com uma entorse simples, pois não há deformidade óbvia.

  • Dor no Dorso do Punho: A dor é centralizada na parte de trás da mão/punho.

  • Dor ao Apoio: O paciente sente dor aguda ao tentar fazer flexão de braço, “prancha” na academia ou ao se levantar da cadeira apoiando a mão.

  • Estalidos (Cliques): Sensação de que algo está estalando ou saindo do lugar dentro do punho ao movimentá-lo.

  • Perda de Força: Dificuldade para segurar objetos pesados.

Diagnóstico​

O diagnóstico pode ser difícil e exige um especialista atento, pois o Raio-X inicial pode parecer normal em lesões dinâmicas.

  • Exame Físico: O médico realiza o Teste de Watson. Ao pressionar o escafoide e mover o punho, pode-se sentir um “clique” doloroso, indicando instabilidade.

  • Raio-X: Em lesões graves, o raio-x mostra um espaço aumentado entre os dois ossos (o famoso “Sinal de Terry Thomas” ou “Sinal da Janela”).

  • Ressonância Magnética: É fundamental para visualizar o ligamento em si e confirmar a ruptura.

  • Artroscopia: É o padrão-ouro (o melhor método). Uma câmera é inserida no punho para ver a lesão diretamente e testar a estabilidade.

Tratamento

O tratamento depende se a lesão é aguda (recente) ou crônica (antiga) e do grau de instabilidade.

 

Tratamento Conservador: Reservado apenas para lesões parciais (estiramentos) onde não há separação dos ossos.

  • Imobilização: Uso de gesso ou órtese rígida por cerca de 6 a 8 semanas para permitir a cicatrização.

  • Terapia da Mão: Para reabilitação e fortalecimento dos músculos que ajudam a estabilizar o punho.

Se a ruptura for completa ou houver instabilidade, o tratamento conservador geralmente não funciona.

Cirurgia

A cirurgia é indicada para restaurar a estabilidade entre o escafoide e o semilunar e prevenir a artrose futura.

  • Reparo Direto (Casos Agudos): Se a lesão for recente (poucas semanas), é possível costurar o ligamento ou reinseri-lo no osso com âncoras (pequenos parafusos).

  • Reconstrução Ligamentar (Casos Crônicos): Se a lesão é antiga, o ligamento original já degenerou. O cirurgião utiliza um pedaço de tendão do próprio paciente (enxerto) para “criar” um novo ligamento e amarrar os ossos novamente.

  • Capsulodeses: Técnicas que usam a cápsula da articulação para reforçar a estabilidade.

A cirurgia é realizada com bloqueio local ou periférico (o braço fica dormente) associado a uma sedação leve ou máscara laríngea.

Prognóstico e Recuperação

A recuperação é longa e exige paciência para garantir que a cicatrização do ligamento seja forte o suficiente.

  • Fixação Temporária: Durante a cirurgia, o médico coloca fios de metal (Fios de Kirschner) para segurar os ossos na posição correta. Esses fios são sepultados (ficam totalmente escondidos embaixo da pele) para evitar infecção e aumentar o seu conforto. Eles permanecem por cerca de 8 semanas.

  • Retirada dos Fios: Após esse período, é necessário realizar um novo procedimento pequeno, com anestesia local, para retirar os fios e liberar o punho para o movimento.

  • Reabilitação: A rigidez do punho é esperada após esse tempo imobilizado. A Terapia da Mão é obrigatória e intensiva para recuperar o movimento.

  • Sequelas: O objetivo é um punho estável e sem dor. É comum haver uma leve perda de flexibilidade final, mas que não impede as atividades do dia a dia.

Quando Procurar o Especialista​

Não ignore uma “dorzinha” no punho que persiste após uma queda.

 

Procure um Cirurgião de Mão se:

  • A dor no punho não melhora após 2 semanas de um trauma.

  • Você sente estalos dolorosos ao movimentar a mão.

  • Tem dificuldade para apoiar a mão no chão.

Dúvidas Frequentes (FAQ)

O ligamento cicatriza sozinho sem cirurgia? Se a ruptura for completa (os ossos se separaram), ele não cicatriza sozinho na posição correta. O líquido articular impede a formação de uma “ponte” de cura. A cirurgia é necessária para reaproximar as estruturas.

 

O que acontece se eu não operar? A instabilidade crônica faz os ossos baterem uns nos outros de forma errada. Com o passar dos anos, isso destrói a cartilagem, causando uma artrose severa e dolorosa chamada SLAC, que pode exigir a fusão (travamento) do punho.

 

Vou perder o movimento do punho com a cirurgia? O objetivo da cirurgia é estabilizar. É esperado perder um pouco da flexibilidade final (cerca de 20-30% do movimento) em troca de um punho firme, forte e sem dor, o que é uma troca vantajosa para a função.

 

Preciso operar de novo para tirar os pinos? Sim. Como os fios de metal são deixados embaixo da pele (sepultados) para sua segurança e conforto, é necessário um pequeno procedimento rápido, com anestesia local, para removê-los após cerca de 8 semanas.

Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.