Lesão da Fibrocartilagem Triangular
Se você sente uma dor persistente na lateral do punho, bem na direção do dedo mínimo (mindinho), especialmente ao girar a mão para abrir uma maçaneta ou torcer um pano, você pode ter uma lesão na Fibrocartilagem Triangular.
Essa estrutura é pequena, mas fundamental para a estabilidade e força do nosso punho.

O Que É?
A Fibrocartilagem Triangular (FCT) é um complexo de ligamentos e cartilagem localizado na parte ulnar do punho (o lado do dedo mindinho).
Para facilitar o entendimento, costumamos dizer que ela é o “menisco do punho”. Assim como o menisco do joelho, a Fibrocartilagem tem duas funções principais:
Amortecedor: Ela absorve o impacto entre os ossos da mão e o osso do antebraço (ulna).
Estabilizador: Ela funciona como uma “rede” que segura os ossos do antebraço (rádio e ulna) juntos, permitindo que você gire a mão com força e segurança.
Causas e Fatores de Risco
As lesões da fibrocartilagem podem ser divididas em dois tipos:
Traumáticas (Acidentes): A causa mais comum é a queda sobre a mão espalmada. Outra causa frequente é uma força de torção súbita, como quando uma furadeira trava e gira o punho da pessoa violentamente.
Degenerativas (Desgaste): Com o envelhecimento, a cartilagem pode se desgastar e afinar.
Fator de Risco Anatômico (“Ulna Plus”): Algumas pessoas nascem com o osso da ulna um pouco mais comprido que o rádio. Isso faz com que o osso “bata” constantemente na fibrocartilagem, causando um desgaste acelerado (Síndrome do Impacto Ulnar).
Sintomas Mais Comuns
Os sintomas costumam ser bem localizados e atrapalham movimentos de rotação.
Dor Ulnar: Dor na lateral do punho (lado do dedo mínimo).
Dor à Rotação: A dor piora ao fazer movimentos de girar, como abrir potes, usar chaves de fenda ou abrir portas.
Estalidos: Sensação de “clique” ou estalo ao girar o punho.
Perda de Força: Dificuldade para segurar objetos pesados.
Instabilidade: Em casos graves, o paciente sente que o osso do punho está “solto” ou “sambando”.
Diagnóstico
O diagnóstico depende muito do exame físico realizado pelo especialista. O médico realiza testes provocativos (como o “Teste da Fóvea”) para reproduzir a dor e verificar a estabilidade.
Exames de imagem são essenciais para confirmar a lesão:
Ressonância Magnética: É o padrão-ouro. Ela consegue mostrar os detalhes dos ligamentos e se há rupturas.
Raio-X: Importante para ver se o osso da ulna é mais comprido que o normal (variância ulnar positiva).
Tratamento
Nem toda lesão precisa de cirurgia. O tratamento inicial visa cicatrizar a lesão e aliviar a inflamação.
Tratamento Conservador:
Imobilização: Uso de órteses ou talas específicas que impedem o giro do punho por cerca de 6 a 8 semanas.
Repouso: Evitar atividades de impacto e rotação.
Fisioterapia / Terapia da Mão: Para fortalecer a musculatura que protege o punho.
Infiltração: Uma injeção de corticoide no local pode reduzir a inflamação e a dor em casos agudos.
Cirurgia
A cirurgia é indicada quando o tratamento conservador falha, quando a dor persiste por meses ou quando há uma instabilidade importante da articulação (o punho está solto).
A técnica mais utilizada é a Artroscopia de Punho (cirurgia por vídeo). Através de pequenos furos (portais), o cirurgião insere uma câmera dentro do punho.
Se a lesão for central: Geralmente fazemos apenas a limpeza (desbridamento) da parte rasgada que está incomodando.
Se a lesão for periférica (onde tem vascularização): Podemos costurar (suturar) a fibrocartilagem de volta ao osso para que ela cicatrize.
Se houver Impacto Ulnar: Pode ser necessário encurtar milimetricamente o osso da ulna (osteotomia) para parar de esmagar a cartilagem.
A cirurgia é realizada com bloqueio local ou periférico (braço dormente) associado a uma sedação leve ou máscara laríngea. O paciente tem alta no mesmo dia.
Prognóstico e Recuperação
O tempo de recuperação varia conforme o procedimento realizado na cirurgia:
Limpeza (Desbridamento): Recuperação rápida. O paciente usa uma proteção leve e inicia fisioterapia em poucos dias.
Reparo (Costura): Recuperação mais lenta. Exige imobilização (gesso ou tala longa) por cerca de 6 a 8 semanas para o ligamento colar, antes de iniciar a fisioterapia.
Pontos: Os pontos da pele são retirados geralmente após 14 dias.
A reabilitação é fundamental para recuperar o movimento de rotação (pronossupinação) e a força de preensão.
Quando Procurar o Especialista
Dores no lado do mindinho não devem ser ignoradas, pois podem evoluir para desgaste crônico.
Procure um Cirurgião de Mão se:
A dor no punho não passa após 2 semanas de uma queda.
Você sente estalos dolorosos ao girar a mão.
Sente que o punho está “frouxo” ou sem força.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
A lesão da fibrocartilagem cura sozinha? Depende do local. A parte periférica da fibrocartilagem tem boa circulação de sangue e pode cicatrizar com imobilização. A parte central não tem sangue (avascular) e não cicatriza sozinha, necessitando de limpeza cirúrgica se continuar doendo.
O estalo no punho é perigoso? Se o estalo for indolor, geralmente não é preocupante. Porém, se o estalo vier acompanhado de dor aguda ou sensação de que algo saiu do lugar, indica uma lesão ou instabilidade que precisa de avaliação.
A artroscopia deixa cicatriz grande? Não. São feitos apenas 2 ou 3 pequenos furos de alguns milímetros no dorso do punho para a entrada da câmera e instrumentos, resultando em cicatrizes quase imperceptíveis com o tempo.
Posso voltar a fazer academia? Sim, mas o retorno deve ser gradual e guiado. Exercícios que exigem apoio de mão (como flexão de braço e supino) ou carga com rotação (como rosca bíceps) são os últimos a serem liberados, pois forçam diretamente a fibrocartilagem.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
