Hipoplasia ou Agenesia do Polegar
O nascimento de um bebê é um momento de alegria, mas notar que a mãozinha da criança é diferente pode gerar muita ansiedade nos pais. A Hipoplasia (desenvolvimento incompleto) ou Agenesia (ausência total) do polegar são condições congênitas que afetam a função mais importante da mão: a pinça.
Felizmente, a cirurgia da mão pediátrica oferece soluções incríveis para reconstruir ou criar um novo polegar, permitindo que a criança tenha uma vida funcional e independente.

O Que É?
O polegar é responsável por cerca de 40% a 50% da função de toda a mão. A Hipoplasia do Polegar ocorre quando ele não se forma completamente durante a gestação. O grau de subdesenvolvimento varia muito: o polegar pode ser apenas um pouco menor e mais fino, ou pode ser um “polegar flutuante” (preso apenas pela pele, sem ossos firmes).
Já a Agenesia do Polegar é a ausência completa do dedo.
Essas condições ocorrem devido a uma falha na formação dos tecidos (ossos, músculos, tendões e ligamentos) do lado radial da mão (o lado do polegar) durante as primeiras semanas de gravidez.
Causas e Fatores de Risco
Na maioria dos casos, a causa exata é desconhecida e ocorre de forma esporádica (ao acaso). É fundamental que os pais saibam: não foi culpa de nada que a mãe fez ou deixou de fazer na gravidez.
No entanto, essas alterações podem estar associadas a síndromes genéticas ou problemas em outros órgãos. As associações mais comuns incluem:
Deficiência Longitudinal Radial: Problemas no osso do antebraço (rádio).
Síndrome de Holt-Oram: Problemas cardíacos.
Anemia de Fanconi: Problemas no sangue.
Associação VACTERL: Problemas renais, vertebrais, etc.
Por isso, todo bebê com alteração no polegar precisa de uma avaliação médica completa (coração, rins e sangue).
Sintomas Mais Comuns
O principal sinal é visual: o polegar é menor, mais fino ou está ausente. Funcionalmente, a criança tem dificuldade ou incapacidade de fazer o movimento de pinça e agarrar objetos grandes.
Para definir o tratamento, os médicos usam a Classificação de Blauth, que divide a gravidade em 5 tipos, baseada na presença de ossos e músculos:
Tipo 1: Polegar um pouco menor, mas com todos os ossos e músculos funcionando.
Tipo 2: Polegar menor, com o espaço entre ele e o indicador “fechado” (estreitamento da primeira comissura) e instabilidade na articulação.
Tipo 3: Anomalias ósseas significativas e falta de músculos importantes. Pode ter a base estável (3A) ou instável (3B).
Tipo 4 (Polegar Flutuante): O polegar é apenas um pedaço de pele e unha pendurado, sem conexão óssea com a mão. Não tem função.
Tipo 5 (Agenesia): Ausência total do polegar.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito pelo exame físico logo após o nascimento. O cirurgião de mão pediátrico avalia a estabilidade, o movimento e a presença dos músculos da base do polegar (emurência tenar).
O exame de Raio-X é obrigatório para classificar o tipo (ver se existem os ossos metacarpais) e planejar a cirurgia. Além disso, o médico solicitará exames gerais (como ultrassom renal e ecocardiograma) para descartar as síndromes associadas citadas anteriormente.
Tratamento
O tratamento depende inteiramente do Tipo (Classificação de Blauth). O objetivo não é apenas estético, mas fornecer uma mão capaz de segurar objetos e escrever.
Casos Leves (Tipo 1): Geralmente não precisam de cirurgia, apenas acompanhamento e Terapia Ocupacional.
Casos Moderados (Tipo 2 e 3A): O polegar existe e pode ser salvo. O tratamento envolve cirurgias para reconstrução, estabilizando as articulações e transferindo tendões para dar força.
Casos Graves (Tipo 3B, 4 e 5): O polegar é ausente ou tão fraco que não serve para nada. Nesses casos, a melhor opção funcional é a criação de um novo polegar.
Cirurgia
A cirurgia é realizada geralmente entre 1 e 2 anos de idade, época em que a criança começa a desenvolver a pinça fina e o cérebro tem maior plasticidade para “aprender” a usar o novo dedo.
Existem duas abordagens principais:
1. Reconstrução do Polegar (Tipos 2 e 3A): O cirurgião aprofunda o espaço entre o polegar e o indicador (para abrir a mão) e realiza transferências tendíneas (usa tendões de outros dedos) para restaurar a força e a estabilidade.
2. Policização do Indicador (Tipos 3B, 4 e 5): É a cirurgia padrão-ouro para a falta de polegar.
O que é: O cirurgião transforma o dedo indicador em um polegar.
Como funciona: O dedo indicador é encurtado, rodado e reposicionado no lugar do polegar. Os nervos e vasos são preservados.
Resultado: A criança passa a ter uma mão com 4 dedos, mas com um polegar funcional e capaz de fazer pinça. Esteticamente e funcionalmente, é a melhor solução a longo prazo.
A cirurgia é feita sob anestesia geral.
Prognóstico e Recuperação
O cérebro da criança é incrível. Após a policização, a criança rapidamente “esquece” que aquele dedo era um indicador e passa a usá-lo naturalmente como polegar.
Pós-operatório: A mão fica imobilizada com gesso por cerca de 4 a 6 semanas.
Pontos: São absorvíveis ou retirados após 14 a 21 dias.
Reabilitação: A Terapia da Mão (Terapia Ocupacional) é essencial para ensinar a criança a usar o novo dedo, fortalecendo a pinça através de brincadeiras e atividades lúdicas.
O resultado final costuma ser uma mão muito funcional, permitindo escrita, esportes e vida normal.
Quando Procurar o Especialista
A avaliação deve ser feita nos primeiros meses de vida.
Procure um Cirurgião da Mão Pediátrico se:
O bebê nasceu com o polegar visivelmente menor ou diferente.
O polegar parece “solto” ou sem osso.
O bebê não usa o polegar para tentar pegar brinquedos.
O planejamento precoce é vital para operar na idade ideal de desenvolvimento cerebral.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Se fizer a policização, meu filho vai ficar com 4 dedos? Sim, a mão ficará com 4 dedos (um polegar novo e três dedos longos). Funcionalmente é muito melhor ter 4 dedos com um polegar que funciona (uma pinça) do que 5 dedos onde o polegar não serve para nada. A função da mão depende do polegar.
O dedo indicador vai parecer um polegar de verdade? Sim. A cirurgia é feita de forma que o dedo seja encurtado e rodado para ficar na posição e tamanho proporcionais a um polegar. Com o tempo, a aparência fica muito natural.
Por que não tentar salvar o “polegar flutuante”? Porque ele não tem estrutura óssea, muscular ou tendínea. Tentar reconstruir um dedo que não tem base resulta em um polegar rígido, sem sensibilidade e sem função, que só atrapalha a mão. A policização oferece um resultado funcional muito superior.
É possível fazer transplante de dedo do pé? É tecnicamente possível (microcirurgia), mas raramente indicado para hipoplasia congênita, pois a policização do indicador oferece melhor sensibilidade, crescimento e estética, com menos riscos.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
