Fratura do Antebraço
A fratura do antebraço é uma das lesões mais comuns atendidas no pronto-socorro. Ela envolve a quebra de um ou dos dois ossos que ficam entre o cotovelo e o punho: o Rádio e a Ulna.
O tratamento dessa lesão varia radicalmente dependendo da idade do paciente. O que funciona para uma criança pode não funcionar para um adulto, e entender essa diferença é fundamental para uma boa recuperação.

O Que É?
O antebraço funciona como uma estrutura complexa que permite girar a palma da mão para cima e para baixo (pronossupinação). Para isso, o Rádio e a Ulna precisam trabalhar em perfeita harmonia.
Uma fratura do antebraço é a perda da continuidade desses ossos.
Em adultos, os ossos são duros como madeira seca e geralmente quebram completamente (fratura diafisária).
Em crianças, os ossos são flexíveis como um “galho verde”. Eles podem apenas envergar ou quebrar de um lado só, mantendo o outro lado intacto (a famosa fratura em galho verde).
Causas e Fatores de Risco
A causa mais comum é o trauma direto ou indireto.
Quedas: O mecanismo clássico é cair e colocar a mão espalmada no chão para se proteger. O peso do corpo é transmitido para o antebraço, que quebra.
Esportes: Muito comum em crianças que brincam em parquinhos (trepa-trepa), andam de skate ou jogam futebol.
Acidentes de Trânsito: Motociclistas e ciclistas estão sob alto risco de fraturas mais graves e expostas.
Osteoporose: Em idosos, uma queda simples dentro de casa pode ser suficiente para fraturar os ossos.
Sintomas Mais Comuns
Os sinais são geralmente óbvios e imediatos:
Deformidade: O antebraço pode ficar visivelmente torto, angulado ou inchado.
Dor Intensa: Piora com qualquer tentativa de movimento.
Incapacidade Funcional: O paciente não consegue girar o antebraço (palma para cima/baixo).
Crepitação: Sensação de “areia” ou osso raspando ao tentar mexer.
Dormência: Se os fragmentos do osso comprimirem um nervo, pode haver formigamento na mão.
Diagnóstico
O diagnóstico é iniciado no exame físico, avaliando a circulação e a função dos nervos da mão.
O exame de Raio-X é obrigatório. Ele mostra:
Qual osso quebrou (Rádio, Ulna ou ambos).
O tipo de traço da fratura.
Se há desvio (se os ossos saíram do lugar).
Em casos complexos, fraturas que atingem a articulação ou para planejamento cirúrgico detalhado em adultos, a Tomografia Computadorizada pode ser solicitada.
Tratamento
Aqui existe uma grande divisão entre crianças e adultos:
Em Crianças
As crianças têm um “superpoder”: o potencial de remodelação óssea. O osso da criança cresce rápido e consegue “se consertar” sozinho, corrigindo pequenas tortuosidades com o tempo.
Tratamento Conservador (Gesso): A grande maioria das fraturas infantis é tratada apenas colocando o osso no lugar (redução) e imobilizando com gesso por 4 a 6 semanas.
Em Adultos
Os adultos não remodelam. O osso cola exatamente na posição em que for deixado. Se colar torto, o paciente perde o movimento de girar o braço.
Tratamento Conservador: É raro em adultos, reservado apenas para fraturas sem nenhum desvio.
Tratamento Cirúrgico: É a regra para a maioria das fraturas desviadas do antebraço em adultos.
Cirurgia
A cirurgia é indicada quando não é possível manter o osso alinhado apenas com gesso ou quando a anatomia precisa ser restaurada perfeitamente (adultos).
Técnicas Cirúrgicas:
Em Crianças (Minimamente Invasiva): Geralmente usamos Fios de Kirschner (pinos de metal) ou Hastes Flexíveis (TENs) que são passados por dentro do osso através de furinhos minúsculos na pele. Eles funcionam como um “tutor” interno. Não abrimos o foco da fratura, a não ser que haja interposição muscular.
Em Adultos (Fixação Rígida): Precisamos de estabilidade absoluta. Usamos Placas e Parafusos. O cirurgião faz uma incisão, realinha o osso anatomicamente e fixa com uma placa de metal. Isso permite que o adulto comece a mexer o antebraço precocemente, evitando rigidez.
A cirurgia é realizada com bloqueio local ou periférico (o braço fica dormente) associado a uma sedação ou máscara laríngea.
Prognóstico e Recuperação
Tempo de Consolidação (Colar): O osso leva cerca de 6 semanas para consolidar. Crianças colam mais rápido que adultos.
Pontos: Se houver incisão cirúrgica, os pontos são retirados com 14 dias.
Retirada de Material:
Crianças: Fios e hastes são quase sempre retirados após a consolidação (procedimento simples).
Adultos: Placas e parafusos foram feitos para ficar, sendo retirados apenas se incomodarem.
Reabilitação: A Terapia da Mão (Fisioterapia) é crucial, especialmente para adultos, para recuperar a força e, principalmente, o movimento de pronossupinação (girar a palma da mão), que é o mais difícil de ganhar.
Quando Procurar o Especialista
Toda suspeita de fratura é uma urgência.
Procure um Pronto-Socorro imediatamente se:
Houver deformidade visível no antebraço após uma queda.
A dor for intensa e não melhorar.
Houver ferimento na pele próximo à fratura (fratura exposta).
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Por que meu filho vai usar gesso e eu preciso operar? Porque o osso da criança aceita desaforo: ele cresce e corrige pequenas deformidades (remodelação). O osso do adulto não corrige; se colar torto, você perde o movimento do braço para sempre.
O que é a fratura em galho verde? É uma fratura exclusiva de crianças. O osso é tão elástico que ele enverga e quebra apenas de um lado (córtex), como quando tentamos quebrar um galho de árvore verde e úmido.
Vou sentir dor no frio? É comum sentir um desconforto ou “pontada” no local da fratura em dias frios ou mudanças de tempo. Isso acontece pela alteração na circulação e pressão dentro do osso, mas não indica que algo está errado.
Preciso tirar a placa de metal depois? Em adultos, geralmente não. As placas de titânio ou aço cirúrgico são biocompatíveis e ficam para sempre. Só retiramos se elas causarem incômodo na pele ou dor local após a consolidação completa.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
