Doença de Preiser
A Doença de Preiser é uma condição rara e preocupante que afeta o Escafoide, o principal osso do punho localizado na base do polegar. Trata-se da morte progressiva deste osso por falta de circulação sanguínea.
Muitas vezes confundida com uma “torção” ou tendinite que não sara, essa doença exige diagnóstico preciso para evitar o colapso do punho e a perda da função da mão.

O Que É?
A Doença de Preiser é a necrose avascular (ou osteonecrose) do osso escafoide.
Para entender melhor: imagine que o osso funciona como uma planta que precisa de água (sangue) para viver. Se, por algum motivo, os “canos” (vasos sanguíneos) que levam sangue para o escafoide entupirem ou forem danificados, o osso começa a morrer.
Sem sangue, o tecido ósseo enfraquece, perde sua estrutura e pode acabar quebrando ou achatando sozinho, o que destrói o encaixe perfeito das articulações do punho e causa uma artrose dolorosa.
Causas e Fatores de Risco
Diferente de uma fratura comum causada por uma queda, a Doença de Preiser pode surgir sem um trauma evidente, o que chamamos de causa idiopática.
No entanto, alguns fatores estão associados:
Fraturas Antigas: Uma fratura do escafoide no passado (mesmo que pequena) pode ter danificado a circulação do osso.
Uso de Corticoides: O uso prolongado de medicamentos à base de cortisona é um fator de risco conhecido para necrose óssea.
Doenças Sistêmicas: Lúpus, Esclerodermia ou problemas de coagulação.
Traumas de Repetição: Uso de ferramentas vibratórias ou impactos constantes na palma da mão.
Sintomas Mais Comuns
A dor é o sinal de alerta, mas ela pode ser vaga no início.
Dor na “Tabaqueira Anatômica”: Dor localizada no lado do punho próximo ao polegar (naquele “buraquinho” que se forma quando esticamos o dedo).
Piora com o Movimento: A dor aumenta ao fazer força de pinça ou apoiar a mão no chão.
Inchaço: Leve edema na região lateral do punho.
Rigidez: Dificuldade progressiva para movimentar o punho.
Fraqueza: Perda de força para segurar objetos pesados.
Diagnóstico
O diagnóstico é difícil porque o Raio-X inicial pode parecer normal. O médico precisa ter um alto grau de suspeita.
Exame Físico: Dor à palpação direta do escafoide.
Raio-X: Em fases mais avançadas, o osso aparece mais “branco” (esclerose) ou fragmentado.
Ressonância Magnética: É o exame padrão-ouro. Ela consegue detectar a falta de sangue no osso (edema e necrose) muito antes de aparecer qualquer alteração no Raio-X, permitindo o tratamento precoce.
Tomografia: Útil para ver a arquitetura do osso e se ele já colapsou.
Tratamento
O tratamento depende do estágio da doença (se o osso ainda está inteiro ou se já quebrou/colapsou).
Tratamento Conservador: Indicado apenas para fases muito iniciais, onde não há alterações no formato do osso.
Imobilização: Uso de gesso ou órtese (tala) para tirar a carga do osso e tentar permitir que o corpo restabeleça a circulação.
Medicamentos: Para alívio da dor.
Fisioterapia: Para manter a mobilidade das articulações vizinhas.
Infelizmente, a maioria dos casos acaba precisando de intervenção cirúrgica para tentar salvar o osso.
Cirurgia
A cirurgia visa restaurar a vida do osso ou, em casos graves, tratar a dor da artrose.
Revascularização (Enxerto Ósseo Vascularizado): O cirurgião retira um pequeno pedaço de osso saudável do rádio, junto com sua artéria nutridora, e o transplanta para dentro do escafoide morto. É como fazer um “bypass” ou ponte de safena para o osso.
Procedimentos de Salvação: Se o escafoide já morreu completamente e colapsou, não adianta tentar revivê-lo. Nesses casos, opta-se por:
Carpectomia da Fileira Proximal: Retirada dos ossos doentes do punho.
Artrodese (Fusão): “Colar” os ossos do punho para eliminar a dor, em troca de perder parte do movimento.
A cirurgia é realizada geralmente com bloqueio local ou periférico (o membro superior fica dormente) associado a uma sedação leve ou máscara laríngea.
Prognóstico e Recuperação
A recuperação é lenta e exige paciência.
Imobilização: O tempo de gesso varia de 6 a 12 semanas, dependendo da técnica usada, para garantir a cicatrização óssea.
Pontos: São retirados geralmente após 14 dias.
Reabilitação: A terapia da mão é essencial para recuperar o movimento, que costuma ficar limitado no início.
Expectativa: O objetivo principal é uma mão indolor e funcional para as atividades do dia a dia. A recuperação total da força e flexibilidade pode não ser completa, dependendo da gravidade da necrose inicial.
Quando Procurar o Especialista
Não ignore uma dor persistente na base do polegar.
Procure um Cirurgião de Mão se:
Sente dor no punho (lado do polegar) que não melhora com repouso.
Teve uma queda sobre a mão no passado e a dor voltou meses ou anos depois.
Percebe inchaço ou dificuldade para movimentar o polegar e o punho.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Qual a diferença entre Doença de Preiser e Fratura do Escafoide? A fratura é uma quebra súbita do osso por um trauma. A Doença de Preiser é a morte lenta do osso por falta de sangue, que pode ocorrer mesmo sem fratura (ou ser uma consequência tardia de uma fratura que não colou).
A doença tem cura? Se descoberta muito no início, é possível reverter ou paralisar o processo com cirurgias de revascularização. Em fases avançadas, o foco muda para “salvação”, ou seja, tirar a dor e manter a função, mesmo que o osso não volte ao normal.
É um tipo de câncer nos ossos? Não. A necrose avascular é semelhante a um “infarto” do osso. Não tem nenhuma relação com células cancerígenas ou tumores.
Preciso operar com urgência? Não é uma emergência de horas, mas quanto antes for feita a intervenção, maior a chance de salvar o escafoide. Esperar o osso colapsar torna o tratamento muito mais difícil e com mais sequelas.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
