Dedo em Martelo
O “Dedo em Martelo” é uma lesão muito frequente e fácil de reconhecer: após uma batida, a ponta do dedo fica caída e você não consegue esticá-la sozinho, por mais força que faça. Embora pareça algo simples, exige tratamento disciplinado para não deixar sequelas.

O Que É?
O Dedo em Martelo é a perda da capacidade de esticar a ponta do dedo (a última falange). Isso acontece porque o mecanismo extensor — a “corda” que puxa a ponta do dedo para cima — se rompeu ou se soltou.
Existem dois tipos principais:
Tendíneo: O tendão extensor se rompe (rasga), mas o osso continua intacto. É como se a corda arrebentasse.
Ósseo: O tendão é tão forte que não rompe, mas arranca um pedaço do osso onde ele estava preso (fratura por avulsão). É como se a corda arrancasse o gancho da parede.
Causas e Fatores de Risco
A causa clássica é um trauma direto na ponta do dedo quando ele está esticado, forçando-o a dobrar bruscamente.
Os cenários mais comuns são:
Esportes com bola: Basquete, vôlei ou goleiros de futebol, quando a bola bate “de ponta” no dedo.
Atividades domésticas: Ocorre frequentemente ao tentar colocar o lençol preso embaixo do colchão (“arrumar a cama”) e o dedo bate ou prende.
Idade: Em idosos, um trauma muito leve pode causar a lesão, pois os tendões são naturalmente mais frágeis.
Sintomas Mais Comuns
O sinal visual é inconfundível.
Ponta do dedo caída: A última junta fica dobrada para baixo.
Incapacidade de extensão: Você consegue dobrar o dedo, mas não consegue esticar a ponta ativamente. Se você usar a outra mão para ajudar, ela estica (isso mostra que não está travada, apenas “sem motor”).
Dor e Inchaço:
No tipo tendíneo, a dor pode ser leve e o inchaço discreto.
No tipo ósseo, a dor costuma ser mais intensa, com inchaço maior e hematoma (roxo) na base da unha.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico, bastando ao médico observar a queda do dedo e a falta de movimento ativo.
No entanto, o Raio-X é obrigatório. Ele é fundamental para diferenciar se a lesão é apenas do tendão ou se existe uma fratura (tipo ósseo). O Raio-X também mostra se o pedaço de osso quebrado é grande ou se a articulação saiu do lugar (subluxação), o que muda completamente a decisão sobre o tratamento.
Tratamento

O objetivo é manter a ponta do dedo esticada o tempo todo para que o tendão ou o osso colem novamente no lugar certo.
Tratamento Conservador (Sem Cirurgia): É indicado para a maioria dos casos tendíneos e fraturas ósseas pequenas e alinhadas.
Uso de Tala (Órtese): Utiliza-se uma tala específica (como a Tala de Stack ou talas metálicas moldadas) que mantém apenas a ponta do dedo reta.
A Regra de Ouro: A tala deve ser usada 24 horas por dia, sem tirar para nada (nem para o banho), por cerca de 6 a 8 semanas. Se o paciente tirar a tala e o dedo dobrar uma única vez, o processo de cicatrização se rompe e a contagem do tempo volta ao zero.
Cirurgia

A cirurgia é indicada quando a lesão é grave, quando há falha do tratamento com a tala ou em casos crônicos (antigos). A técnica escolhida depende se a lesão é no osso ou no tendão, e há quanto tempo ela ocorreu.
As principais técnicas utilizadas são:
1. Para Dedo em Martelo Ósseo (Fraturas): Técnica de Ishiguro É a técnica de escolha para fraturas onde o pedaço de osso arrancado é grande ou a articulação saiu do lugar.
Como é feita: É um procedimento minimamente invasivo (percutâneo). O cirurgião não precisa abrir o dedo com cortes grandes. São introduzidos fios metálicos finos (Fios de Kirschner) através da pele para funcionar como um “bloqueio”, empurrando e segurando o fragmento de osso no lugar certo até ele colar.
Vantagem: Menor agressão aos tecidos e boa recuperação da articulação.
2. Para Dedo em Martelo Tendíneo Crônico (Lesões Antigas): Técnica de Brooks-Graner Quando a lesão é antiga e o tendão já cicatrizou “frouxo” e alongado (o dedo não estica mais), a tala não funciona.
Como é feita: Realiza-se uma Dermotenodese. O cirurgião remove um pequeno fuso de pele e tendão na parte de cima do dedo e “costura” tudo novamente.
Objetivo: O objetivo é “encurtar” e tensionar novamente o tendão que estava frouxo, restaurando a capacidade de esticar a ponta do dedo.
Todos os procedimentos são realizados com bloqueio local ou periférico (o braço fica dormente), associado a uma sedação leve ou máscara laríngea para conforto total. O paciente recebe alta no mesmo dia.
Prognóstico e Recuperação
O tratamento do dedo em martelo exige paciência e disciplina, pois a imobilização é longa. O tempo de recuperação varia dependendo se a lesão foi no osso ou apenas no tendão:
Tempo de Imobilização:
Dedo em Martelo Ósseo (Fraturas): O osso costuma colar mais rápido. Geralmente, a imobilização (seja com tala ou fios da cirurgia) é mantida por cerca de 6 semanas.
Dedo em Martelo Tendíneo: O tendão tem uma vascularização mais pobre e demora mais para cicatrizar com firmeza. Por isso, a proteção costuma ser mais longa, girando em torno de 8 semanas.
Sequela Comum: É aceitável e muito comum ficar com uma leve perda de extensão final (o dedo não fica 100% reto, ficando cerca de 5 a 10 graus caído). Isso é considerado um sucesso de tratamento, pois é apenas estético e não atrapalha a função da mão.
Reabilitação: A Terapia da Mão (fisioterapia) é essencial após a liberação médica (retirada da tala ou dos fios). O dedo estará rígido pelo tempo parado, e a reabilitação focará em recuperar o movimento de dobrar o dedo sem forçar demais o tendão recém-cicatrizado.
Quando Procurar o Especialista
Não ache que é “só uma luxação” ou que “vai voltar ao lugar sozinho”.
Procure um Ortopedista ou Cirurgião de Mão se:
Sofreu um trauma e a ponta do dedo não estica mais.
Há dor e inchaço na base da unha após uma batida.
Percebe sangue embaixo da unha associado à queda do dedo.
Quanto mais cedo começar o uso da tala, maiores as chances de sucesso sem cirurgia.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Posso tirar a tala para tomar banho? Não. Se você tirar a tala e dobrar o dedo, o tendão que estava cicatrizando se afasta novamente e você perde todo o tempo de tratamento que já fez. Para limpar o dedo, você deve apoiá-lo em uma mesa (mantendo-o reto) e trocar a tala com cuidado extremo.
Se eu operar, recupero mais rápido? Não necessariamente. A cirurgia também exige que o dedo fique imobilizado pelo mesmo tempo (cerca de 6 semanas) para o osso ou tendão colar. A cirurgia é para alinhar melhor a lesão, não para acelerar o tempo biológico de cura.
Fiquei com o dedo caído por meses. Ainda tem conserto? As lesões crônicas (antigas) são mais difíceis de tratar e a tala já não funciona tão bem. Nesses casos, a cirurgia pode ser necessária, mas o resultado pode não ser tão perfeito quanto no tratamento agudo.
Meu dedo vai ficar perfeitamente reto? O objetivo é a função. Frequentemente, sobra uma pequena “queda” residual (lag de extensão) que é estética e não atrapalha o uso da mão.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
