Clinodactilia e Camptodactilia
Ao notar que o dedo da criança é “torto” ou “não estica direito”, é natural que os pais se preocupem. Essas condições, chamadas Clinodactilia e Camptodactilia, são deformidades congênitas comuns, mas que possuem causas e tratamentos muito diferentes.

O Que É?
Embora ambas afetem o formato dos dedos, é fundamental distinguir uma da outra:
Clinodactilia: É quando o dedo (geralmente o mínimo) apresenta uma curvatura lateral. O dedo “aponta” em direção ao dedo vizinho (anelar). É uma alteração no osso, que tem um formato triangular em vez de retangular.
Camptodactilia: É quando o dedo fica dobrado para frente e não estica completamente. É uma alteração nos tecidos moles (tendões, pele ou ligamentos) que estão curtos ou retraídos, mantendo a articulação do meio do dedo sempre em flexão.
Causas e Fatores de Risco
Ambas as condições são, na grande maioria das vezes, congênitas (a criança já nasce com ela) ou se desenvolvem durante o estirão de crescimento na adolescência.
Genética: Existe um forte componente hereditário. É muito comum que os pais ou avós tenham o mesmo formato de dedo.
Anatomia (Clinodactilia): Ocorre devido a uma “falange em delta” (um osso com formato de trapézio ou triângulo), que faz o dedo crescer torto.
Anatomia (Camptodactilia): Causada por um desequilíbrio muscular, inserção anômala de pequenos músculos da mão (lumbricais) ou pele curta na palma da mão.
Síndromes: Podem estar associadas a síndromes genéticas (como Síndrome de Down), mas frequentemente ocorrem isoladamente em crianças saudáveis.
Sintomas Mais Comuns
O principal sinal é visual, e raramente há dor na infância.
Clinodactilia: O dedo mínimo é curvado para o lado. Geralmente não atrapalha a função da mão, sendo uma queixa mais estética.
Camptodactilia: O dedo (geralmente o mínimo) não estica totalmente. Pode ser leve (quase imperceptível) ou grave (o dedo fica muito dobrado, parecendo um gancho).
Limitação Funcional: Em casos graves de camptodactilia, a criança pode ter dificuldade para colocar a mão no bolso, digitar, tocar instrumentos musicais ou apoiar a palma da mão na mesa.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico. O médico especialista examina a mão, avalia a flexibilidade do dedo e diferencia as duas condições apenas olhando e palpando.
No entanto, exames de imagem são fundamentais para entender a causa e planejar a cirurgia:
Raio-X: É obrigatório.
Na Clinodactilia, ele mostra o formato anormal do osso (falange em delta ou triangular).
Na Camptodactilia, ajuda a ver se a articulação já sofreu desgaste ou deformidade óssea.
Ultrassom: A literatura médica recente destaca o ultrassom como um grande aliado, pois ele permite ver as partes moles sem radiação.
Na Camptodactilia: É excelente para identificar a causa exata do travamento, como músculos anômalos (lumbricais) ou tendões flexores curtos, ajudando o cirurgião a saber exatamente o que precisará liberar antes de abrir o dedo.
Na Clinodactilia: Em crianças muito pequenas (bebês), onde o osso ainda é quase todo cartilagem (e não aparece bem no Raio-X), o ultrassom consegue mostrar o formato da fise (placa de crescimento) e confirmar o diagnóstico precocemente.
Tratamento
O tratamento varia radicalmente entre as duas condições.
Para Clinodactilia (Dedo Curvo Lateralmente):
A grande maioria dos casos leves não precisa de tratamento.
Talas e fisioterapia NÃO funcionam, pois o problema é o formato do osso. Nenhuma tala vai “desentortar” um osso que nasceu triangular.
Para Camptodactilia (Dedo Dobrado):
O tratamento inicial é sempre conservador.
Alongamentos diários: Ensinados aos pais para serem feitos em casa.
Órteses (Talas) Progressivas: O uso de talas para dormir que forçam suavemente o dedo a esticar é a base do tratamento e tem bons resultados se iniciado cedo.
Cirurgia
A cirurgia é reservada para casos que causam prejuízo funcional (dificuldade de usar a mão) ou deformidade estética severa que incomoda o paciente.
Cirurgia para Clinodactilia: Realiza-se uma osteotomia. O cirurgião corta o osso torto e retira uma cunha ou coloca um enxerto ósseo para alinhar o dedo.
Cirurgia para Camptodactilia: É mais complexa. Pode envolver alongamento da pele (plásticas em Z), liberação de tendões curtos ou transferência de músculos.
Os procedimentos são realizados geralmente com bloqueio local ou periférico associado a uma sedação leve. A alta ocorre no mesmo dia.
Prognóstico e Recuperação
Clinodactilia: Quando operada, o resultado costuma ser definitivo e estável. O osso é fixado com um fio de metal temporário ou micro-parafuso.
Camptodactilia: É uma condição “teimosa”. Mesmo com cirurgia, existe risco de o dedo voltar a dobrar um pouco com o crescimento. A Terapia da Mão (fisioterapia) pós-operatória é obrigatória e intensa para manter o ganho de extensão.
Em ambos os casos, se houver pontos na pele, eles são retirados após 14 dias.
Quando Procurar o Especialista
A maioria dos pais nota a alteração logo cedo.
Procure um Cirurgião de Mão se:
A curvatura do dedo está piorando com o crescimento da criança.
O dedo dobrado (camptodactilia) está atrapalhando atividades como escrever, digitar ou esportes.
A deformidade causa constrangimento social ou bullying na escola.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
O dedo torto pode atrapalhar o desenvolvimento da criança? Na grande maioria dos casos de Clinodactilia (curvatura lateral), não. A função da mão permanece normal. Já na Camptodactilia grave (dedo dobrado), pode haver alguma limitação para pegar objetos grandes ou tocar instrumentos, exigindo acompanhamento.
É possível corrigir o dedo com talas ou gesso? Para a Clinodactilia (alteração no osso), as talas não funcionam. Para a Camptodactilia (alteração no tecido mole), o uso de órteses de alongamento progressivo na infância pode ajudar muito a esticar o dedo e evitar a cirurgia.
A cirurgia é sempre necessária? Raramente. A cirurgia só é indicada quando a deformidade é grave a ponto de atrapalhar a função da mão (como segurar objetos) ou causar dor. Para casos puramente estéticos leves, os riscos da cirurgia geralmente não compensam.
Essas condições são genéticas? Sim, existe um forte componente hereditário. É muito comum que um dos pais ou avós tenha o dedo mínimo com o mesmo formato, sem nunca ter tido problemas funcionais.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
