Polegar em Gatilho Congênito

Perceber que o bebê mantém o polegar dobrado o tempo todo e não consegue esticá-lo pode gerar muita preocupação nos pais. Essa condição, chamada de Polegar em Gatilho Congênito, é uma das alterações mais comuns na mão pediátrica, mas tem tratamento eficaz e excelente prognóstico.

Ilustração médica do polegar em gatilho congênito infantil, detalhando o nódulo que trava o tendão flexor na polia A1.

O Que É?

O Polegar em Gatilho Congênito é uma condição onde o polegar da criança fica travado em uma posição dobrada (flexão).

 

Isso ocorre devido a um problema mecânico no sistema de deslizamento do tendão. O tendão que dobra o dedo (Flexor Longo) passa por dentro de um túnel estreito (Polia A1). Na criança com essa condição, forma-se um pequeno caroço ou inchaço no tendão, chamado de Nódulo de Notta.

 

Imagine uma corda com um nó tentando passar por uma argola pequena. A corda passa em uma direção (para dobrar o dedo), mas na hora de voltar, o nó enrosca ou trava na entrada da argola, impedindo que o dedo estique novamente.

Causas e Fatores de Risco

Apesar do nome “congênito”, a condição raramente é detectada logo ao nascimento. Ela costuma ser notada pelos pais entre os 6 meses e 2 anos de idade.

  • Causa: Não é uma malformação óssea. É um espessamento do tendão e da polia, puramente mecânico.

  • Não é culpa dos pais: Não tem relação com algo que a mãe fez na gravidez ou no parto.

  • Hereditariedade: Na grande maioria dos casos, não é hereditário e ocorre ao acaso (esporádico).

  • Unilateral ou Bilateral: Pode afetar apenas uma mão ou, em cerca de 30% dos casos, as duas.

Sintomas Mais Comuns

O sinal mais óbvio é a postura do dedo, mas diferentemente dos adultos, raramente a criança sente dor.

  • Polegar Dobrado: A articulação da ponta do polegar fica fletida e a criança não consegue esticar, mesmo tentando.

  • Nódulo Palpável: É possível sentir um “carocinho” duro na base do polegar, na palma da mão (Nódulo de Notta).

  • Travamento: Às vezes o dedo estica com um “clique” ou estalo palpável, mas depois trava novamente.

  • Rigidez: Se você tentar esticar o dedo do bebê com sua mão, sentirá uma resistência elástica ou um bloqueio total.

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico. O especialista examina a mão da criança, palpa o Nódulo de Notta e verifica a incapacidade de extensão.

 

Embora o exame físico seja suficiente, exames podem ser solicitados para descartar outras causas:

  • Raio-X: Importante para diferenciar o dedo em gatilho de malformações ósseas ou fraturas antigas.

  • Ultrassom: Pode confirmar o espessamento da polia e o tamanho do nódulo no tendão, ajudando a diferenciar de cistos ou outras tumorações.

Tratamento

O tratamento depende da idade da criança e da gravidade do travamento.

 

Tratamento Conservador (Observação e Exercícios): Em crianças menores de 1 ano, existe uma chance razoável (cerca de 30%) de resolução espontânea (o problema se resolver naturalmente com o crescimento).

  • Alongamentos: O médico pode ensinar aos pais exercícios suaves de extensão para serem feitos em casa a cada troca de fralda.

  • Órteses: O uso de talas para manter o dedo esticado à noite pode ser tentado, embora seja difícil manter em bebês.

Se a criança já tem mais de 2 ou 3 anos, ou se o dedo está fixo (não estica de jeito nenhum), a chance de resolução espontânea é muito baixa.

Cirurgia

A cirurgia é o tratamento definitivo quando a observação ou os alongamentos não funcionam. Ela é geralmente indicada a partir de 1 ou 2 anos de idade, ou antes se o travamento for muito rígido.

 

O procedimento é a Liberação da Polia A1:

  • O cirurgião faz uma pequena incisão (corte) na base do polegar, seguindo as linhas da mão.

  • A polia (o teto do túnel) é aberta, liberando espaço para o tendão deslizar livremente. O Nódulo de Notta não precisa ser removido; ele diminui sozinho com o tempo após a liberação.

A cirurgia em crianças é realizada sob anestesia geral associada a um bloqueio local para que a criança acorde sem dor. É um procedimento rápido e a alta ocorre no mesmo dia.

Prognóstico e Recuperação

O resultado da cirurgia é excelente e a recidiva (volta do problema) é extremamente rara.

  • Pós-operatório: A criança sai com um curativo acolchoado na mão.

  • Movimento: O uso da mão é estimulado imediatamente. As crianças se adaptam muito rápido e voltam a brincar em poucos dias.

  • Pontos: Os pontos são retirados geralmente após 14 dias.

  • Cicatriz: A incisão é planejada para ficar camuflada nas pregas da pele, tornando-se muito discreta com o crescimento.

Quando Procurar o Especialista

Muitas vezes os pais acham que o bebê apenas gosta de ficar com o dedo fechado (“fechar a mão”).

 

Procure um Cirurgião da Mão Pediátrico se:

  • Você notar que o polegar do seu filho fica sempre dobrado.

  • Sentir um carocinho na base do polegar do bebê.

  • Ao tentar lavar a mão ou cortar a unha, você não consegue esticar o dedinho dele.

Dúvidas Frequentes (FAQ)

O polegar em gatilho do bebê dói? Diferente dos adultos, nas crianças essa condição raramente causa dor. O incômodo é mais funcional (dificuldade de pegar objetos grandes) do que doloroso. Se houver dor ou choro ao mexer, procure o médico para descartar fraturas ou infecções.

 

Pode sarar sozinho sem cirurgia? Sim, existe uma chance de resolução espontânea, principalmente em bebês com menos de 1 ano de idade. Por isso, muitas vezes optamos por observar e fazer exercícios antes de indicar a cirurgia.

 

Qual a melhor idade para operar? Se não houver melhora com os exercícios, a cirurgia é geralmente indicada entre 1 e 3 anos de idade. Operar muito tarde pode causar contraturas na pele ou deformidade na articulação, mas operar muito cedo (antes de 1 ano) aumenta ligeiramente os riscos anestésicos.

 

A cirurgia é perigosa? É um procedimento de baixo risco e muito padronizado. A principal atenção é com os nervos digitais que passam muito perto da polia, por isso deve ser realizada por um especialista em cirurgia da mão familiarizado com a anatomia infantil.

Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.