Paralisia Obstétrica
O nascimento de um filho é um momento único, mas perceber que o bebê não movimenta um dos membros superiores pode ser assustador para os pais. A Paralisia Obstétrica é uma lesão nos nervos que ocorre durante o parto, mas que, felizmente, tem tratamento e grandes chances de recuperação quando acompanhada precocemente.

O Que É?
A Paralisia Obstétrica é uma perda de movimento ou sensibilidade no membro superior do bebê (ombro, braço, antebraço ou mão) causada por uma lesão no Plexo Braquial durante o parto.
O Plexo Braquial é uma complexa rede de nervos que sai da medula espinhal, na região do pescoço, e desce para comandar os músculos do membro superior. Imagine esses nervos como “fios elétricos”. Se durante o nascimento esses fios forem esticados demais, eles podem sofrer danos, interrompendo a comunicação entre o cérebro e os músculos.
Causas e Fatores de Risco
A causa principal é a tração excessiva exercida no pescoço do bebê durante a passagem pelo canal de parto. Isso ocorre geralmente quando o ombro do bebê fica “preso” no osso da bacia da mãe (uma emergência chamada Distocia de Ombro), obrigando a manobras para o nascimento.
Os principais fatores de risco incluem:
Bebês Grandes (Macrossomia): Peso acima de 4kg.
Diabetes Gestacional: Que favorece o crescimento excessivo do bebê.
Partos Difíceis ou Prolongados.
Apresentação Pélvica: Quando o bebê nasce “sentado”.
É importante ressaltar que, muitas vezes, a lesão ocorre mesmo com todas as manobras obstétricas corretas, devido às forças naturais do trabalho de parto.
Sintomas Mais Comuns
Os sinais são percebidos logo após o nascimento. O bebê pode apresentar:
Falta de Movimento: O bebê move um lado normalmente, mas o outro membro superior fica parado ao lado do corpo.
Postura Típica (Gorjeta de Garçom): Na paralisia mais comum (tipo Erb-Duchenne), o braço fica esticado junto ao corpo, rodado para dentro e o punho dobrado para trás.
Ausência de Reflexo de Moro: Quando o bebê se assusta, ele não abre o bracinho afetado.
Mão Fechada ou Aberta: Dependendo da altura da lesão, a mão pode funcionar normalmente ou ficar paralisada (se a lesão for baixa/total).
Síndrome de Horner: Em casos graves (avulsão), pode haver queda da pálpebra e pupila menor no olho do mesmo lado da lesão.
Diagnóstico
O diagnóstico é eminentemente clínico. O pediatra ou ortopedista especialista examina o bebê, testa os reflexos e observa quais movimentos estão presentes e quais faltam.
Exames de imagem ajudam a definir a gravidade e o prognóstico:
Raio-X: Usado inicialmente para descartar fraturas de clavícula ou do úmero (osso do braço), que podem simular uma paralisia (pseudoparalisia) devido à dor.
Ressonância Magnética: É o exame mais detalhado para ver os nervos. Ajuda a identificar se os nervos foram apenas esticados ou se foram arrancados da medula (avulsão).
Eletroneuromiografia: Pode ser solicitada após algumas semanas para avaliar a atividade elétrica dos músculos.
Tratamento
A boa notícia é que a maioria dos casos (cerca de 70% a 80%) são lesões de estiramento (neuropraxia) que se recuperam espontaneamente.
O tratamento inicial é conservador e multidisciplinar:
Terapia Ocupacional / Fisioterapia: É fundamental. Começa-se com movimentos passivos suaves para evitar que as articulações (principalmente o ombro) fiquem rígidas.
Estimulação: Encorajar o bebê a usar o membro afetado através de brincadeiras.
Observação Rigorosa: O médico acompanhará a evolução mês a mês. A recuperação do músculo bíceps (capacidade de dobrar o cotovelo) até o 3º ou 4º mês de vida é o principal indicador de um bom prognóstico.
Cirurgia
A cirurgia é indicada quando não há recuperação espontânea suficiente nos primeiros meses de vida. O tempo é crucial: os músculos não podem ficar muito tempo sem “sinal elétrico”.
Existem dois tipos de cirurgia, dependendo da fase da criança:
1. Microcirurgia de Nervos (Bebês – entre 3 a 9 meses):
Indicada se não houver recuperação do bíceps ou se a mão estiver paralisada.
O cirurgião explora o pescoço, retira a cicatriz (neuroma) e reconstrói os nervos usando enxertos (pontes de nervo retiradas da perna) ou transferências nervosas (usar um nervo vizinho funcionando para “religar” o músculo parado).
2. Cirurgias Secundárias (Crianças maiores):
Se a criança recuperou o nervo, mas ficou com desequilíbrio muscular ou deformidade óssea.
Realizam-se transferências tendíneas (mudar músculos de lugar para ganhar função) ou osteotomias (cortes no osso) para melhorar a posição do membro superior.
Prognóstico e Recuperação
O prognóstico varia conforme a gravidade da lesão (estiramento versus arrancamento).
Recuperação Nervosa: É lenta. O nervo cresce cerca de 1mm por dia. Após a cirurgia, o movimento pode demorar meses para aparecer.
Acompanhamento a Longo Prazo: Mesmo com boa recuperação, a criança precisa ser acompanhada durante todo o crescimento. O desequilíbrio muscular pode causar deformidades no desenvolvimento do ombro (displasia), que precisam ser tratadas cedo.
Independência: Com o tratamento adequado, a grande maioria das crianças desenvolve um membro funcional e capaz de realizar as atividades da vida diária.
Quando Procurar o Especialista
O diagnóstico é feito no berçário, mas o acompanhamento especializado deve começar logo.
Procure um Cirurgião da Mão ou Especialista em Plexo Braquial se:
Seu bebê recebeu alta da maternidade com suspeita de lesão no plexo.
O bebê não dobra o cotovelo ou não levanta o ombro após 1 mês de vida.
Você nota que um bracinho é mais “mole” ou menor que o outro.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
A paralisia obstétrica tem cura total? Na maioria dos casos leves (apenas estiramento), a recuperação pode ser completa e espontânea. Em casos graves onde o nervo rompeu, a cirurgia busca restaurar a função, mas pode haver sequelas definitivas de força ou mobilidade.
O braço do meu filho vai crescer normalmente? Em lesões permanentes, o membro afetado pode crescer um pouco menos que o sadio (ficando mais curto ou mais fino) devido à falta de estímulo nervoso e muscular completo durante o desenvolvimento.
Fisioterapia resolve sozinha? A fisioterapia é vital para manter a articulação “mole” e pronta para mover, mas ela não “conserta” o nervo. Se o nervo estiver rompido, apenas a fisioterapia não será suficiente e a cirurgia será necessária.
A cirurgia é perigosa para o bebê? É uma cirurgia complexa, feita com anestesia geral e microscópio, mas em centros especializados é muito segura. O risco de não operar (perda definitiva da função do braço) geralmente supera os riscos do procedimento.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
