Sindactilia
Receber o diagnóstico de que seu filho nasceu com os dedos das mãos (ou pés) unidos, condição chamada de Sindactilia, pode gerar muitas dúvidas e ansiedade.
A boa notícia é que esta é uma das anomalias congênitas mais comuns e compreendidas da mão, e o tratamento cirúrgico tem resultados excelentes, permitindo que a criança desenvolva uma mão funcional e com ótima aparência.

O Que É?
Sindactilia é o nome médico para a condição em que dois ou mais dedos nascem “grudados” ou “unidos”. Isso acontece porque, durante o desenvolvimento do bebê na gestação, os dedos não se separaram corretamente.
No início, a mão do feto se forma como uma “pá” sólida. Por volta da sétima semana de gravidez, um processo natural (chamado apoptose) faz com que as células do meio morram, “esculpindo” e separando os dedos. Na sindactilia, essa separação falha.
Existem diferentes tipos de sindactilia:
Simples: Apenas a pele e tecidos moles (como gordura) estão unidos.
Complexa: Os ossos (falanges) dos dedos também estão fundidos.
Completa: A união vai da base até a ponta dos dedos.
Incompleta: A união é apenas parcial (parecendo uma “membrana”).
Causas e Fatores de Risco
É muito importante que os pais saibam: a sindactilia não é culpa de nada que fizeram ou deixaram de fazer durante a gravidez.
Na grande maioria dos casos, a sindactilia é um evento esporádico, ou seja, acontece por acaso, sem uma causa definida.
Em uma minoria dos casos, ela pode ter um componente genético (ser “de família”) ou estar associada a síndromes congênitas mais raras (como a Síndrome de Apert ou de Poland), que o médico irá investigar.
Sintomas Mais Comuns
O “sintoma” principal é a própria aparência dos dedos unidos. A sindactilia em si não causa dor à criança.
O problema principal é funcional e, secundariamente, estético. A união impede que os dedos se movam de forma independente, o que pode causar:
Dificuldade para agarrar: Especialmente para pegar objetos pequenos (movimento de pinça).
Limitação de movimento: Dificuldade para abrir a mão completamente ou manipular brinquedos.
Deformidade progressiva: Se não tratada, a união de dedos de tamanhos diferentes (como o anelar e o dedo mínimo) pode fazer com que o dedo maior “entorte” ou curve o dedo menor à medida que a criança cresce.
Diagnóstico
O diagnóstico da sindactilia é clínico e feito imediatamente após o nascimento, apenas pela observação.
No entanto, exames de imagem são essenciais para o planejamento cirúrgico:
Raio-X: É obrigatório. Ele é fundamental, pois é a única forma de mostrar ao cirurgião se os ossos também estão fundidos (sindactilia complexa) ou se são apenas unidos pela pele (sindactilia simples).
Ultrassom (com Doppler) ou Ressonância Magnética: Em casos mais complexos, o cirurgião pode solicitar um destes exames. Eles são úteis para avaliar as estruturas de partes moles, como os vasos sanguíneos. O principal objetivo é mapear as artérias digitais, ajudando a verificar se cada dedo possui sua própria artéria ou se existe uma artéria única para os dois dedos, o que é crucial para a segurança da cirurgia.
Tratamento
É fundamental entender que o tratamento da sindactilia é exclusivamente cirúrgico.
Não existem exercícios, fisioterapia, talas ou medicamentos que possam separar os dedos. O objetivo do tratamento é cirúrgico: separar os dedos para permitir o movimento independente, o crescimento normal e melhorar a função da mão.
Cirurgia
A cirurgia de separação (liberação) da sindactilia é um procedimento delicado e altamente especializado, realizado por um Cirurgião de Mão.
Quando operar? A cirurgia não é uma emergência de nascimento. Ela é planejada com calma, geralmente entre os 6 meses e os 2 anos de idade. Esse período é ideal, pois a criança já tem um tamanho mais seguro para a anestesia, mas a cirurgia é feita cedo o suficiente para evitar deformidades no crescimento e permitir que o cérebro “aprenda” a usar os dedos separados.
Como é feita? O cirurgião não faz um corte reto. Ele usa incisões especiais em “zig-zag” (técnica de Z-plastia) para criar retalhos de pele que serão usados para cobrir as laterais dos dedos após a separação.
O Enxerto de Pele: Este é um ponto crucial. Ao separar dois dedos, nunca há pele suficiente para cobrir toda a nova superfície criada. Por isso, é quase sempre necessário usar um enxerto de pele (um pequeno e fino pedaço de pele, geralmente retirado da virilha ou punho) para cobrir as áreas que ficaram abertas.
O procedimento é realizado com anestesia (geralmente um bloqueio no braço associado a uma sedação ou anestesia geral leve), garantindo que a criança não sinta absolutamente nada durante e nas primeiras horas após a cirurgia.
Prognóstico e Recuperação
O prognóstico após a cirurgia é excelente, especialmente em casos de sindactilia simples. A criança terá uma mão muito mais funcional.
Após o procedimento, a mão será protegida por um curativo volumoso ou uma tala de gesso para manter os dedos seguros. Geralmente são usados pontos absorvíveis, que caem sozinhos à medida que a pele cicatriza, não havendo necessidade de um procedimento desconfortável para retirá-los.
A Terapia da Mão (fisioterapia) é parte essencial da recuperação. O terapeuta especializado ajudará a cuidar da cicatriz, garantindo que ela fique flexível e não “grude” nos tecidos mais profundos. Isso é vital para evitar que a cicatriz “encolha” e limite o movimento de abertura total dos dedos. O terapeuta também guiará a criança com exercícios para ganhar movimento e força nos dedos agora livres.
Quando Procurar o Especialista
A avaliação com o especialista deve ser feita logo após o diagnóstico no nascimento.
Procure um Cirurgião de Mão assim que possível. Ele é o profissional capacitado para avaliar o tipo de sindactilia, pedir os exames corretos e planejar o momento ideal para a cirurgia do seu filho.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Eu fiz algo errado na gravidez para causar isso? Absolutamente não. Na maioria das vezes, é um evento aleatório no desenvolvimento fetal. Não é culpa de nada que a mãe fez ou comeu.
Meu filho terá uma mão “normal”? Ele terá uma mão muito funcional e com ótima aparência. Ele será capaz de realizar todas as atividades. Haverá cicatrizes (como em qualquer cirurgia) e a unha pode ser um pouco diferente se estiverem envolvidas na união, mas a função costuma ser excelente.
Por que precisa de enxerto de pele? Não dá só para costurar? Não. Imagine tentar separar dois pães de forma grudados lado a lado; não há “casca” suficiente para cobrir os lados que estavam juntos. Na mão, acontece o mesmo. O enxerto é necessário para fechar a ferida sem tensão e permitir uma boa cicatrização.
A cirurgia é arriscada? Toda anestesia tem riscos, mas a cirurgia de sindactilia é um procedimento pediátrico padrão e muito seguro, realizado em hospitais preparados. Os benefícios de ter uma mão funcional superam em muito os riscos cirúrgicos.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
