Síndrome do Túnel Cubital

A Síndrome do Túnel Cubital acontece quando o nervo ulnar — um dos principais nervos do braço — fica “apertado” ou comprimido ao passar por um túnel na parte de dentro do cotovelo.

 

Esse é o mesmo nervo responsável pela sensação de “choque” que sentimos quando batemos o cotovelo. Ele controla a sensibilidade do dedo mínimo e de metade do dedo anelar, além de comandar vários músculos pequenos que ajudam a mão a fazer movimentos finos e a ter força.

Ilustração da Síndrome do Túnel Cubital: compressão do nervo ulnar no cotovelo e formigamento nos dedos mínimo e anelar.

O Que É?

A compressão do nervo ulnar pode ser causada por diversos fatores. Muitas vezes, não há uma única causa, mas sim uma combinação delas.

 

Os fatores de risco mais comuns incluem:

  • Manter o cotovelo dobrado por muito tempo: Isso estica o nervo. É comum em atividades como usar o celular, ler um livro ou dormir com o braço dobrado sob a cabeça.

  • Pressão direta: Apoiar o cotovelo com frequência em superfícies duras, como mesas, apoios de braço de cadeiras ou janelas de carro.

  • Traumas ou lesões: Fraturas antigas ou pancadas diretas no cotovelo podem causar inchaço ou cicatrizes que apertam o nervo.

  • Condições médicas: Artrite, artrose, cistos ou inchaço na articulação do cotovelo podem diminuir o espaço para o nervo.

Causas e Fatores de Risco

Na maioria das vezes, não sabemos a causa exata (são idiopáticos). No entanto, eles são mais comuns em algumas situações:

  • Microtraumas: Atividades que sobrecarregam o punho, como em ginastas ou pessoas que trabalham com movimentos repetitivos de força.

  • Trauma Prévio: Uma pancada ou lesão antiga no punho pode enfraquecer a cápsula da articulação e dar origem ao cisto.

  • Idade e Sexo: São mais comuns em pessoas jovens, entre 20 e 40 anos, e aparecem com mais frequência em mulheres.

  • Desgaste Articular: Em alguns casos, o cisto pode ser um sinal inicial de desgaste (artrose) na articulação.

Sintomas Mais Comuns

Os sintomas geralmente começam de forma leve e podem piorar com o tempo. Os sinais mais clássicos são:

  • Dormência e formigamento: Principalmente no dedo mínimo e no dedo anelar. Pode ser intermitente (ir e vir) e piorar à noite.

  • Dor: Uma dor na parte interna do cotovelo, que pode se espalhar para o antebraço e para a mão.

  • Sensação de “choque”: Ao tocar ou apoiar a parte interna do cotovelo.

  • Fraqueza na mão: Dificuldade para segurar objetos, abrir potes, girar uma chave ou coordenar os dedos (como ao digitar ou tocar um instrumento).

  • Atrofia muscular: Em casos mais graves ou crônicos, os músculos da mão controlados por esse nervo podem começar a “murchar”, o que pode ser visto como um afundamento da mão entre o polegar e o indicador.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito no consultório, baseado na sua história e em um exame físico detalhado. O médico especialista irá avaliar a sensibilidade da sua mão, testar a força dos seus músculos e realizar manobras específicas para provocar os sintomas (como dobrar o cotovelo ou percutir o nervo).

 

Embora o diagnóstico seja primariamente clínico, alguns exames são importantes para confirmar o local exato da compressão e, principalmente, a gravidade do problema:

  • Eletroneuromiografia (ENMG): É o exame mais importante. Ele mede a velocidade de condução do impulso elétrico pelo nervo, mostrando se o nervo está “lento” e onde exatamente está o “congestionamento”.

  • Ultrassom: É um exame muito útil que permite ver o nervo diretamente. Ele avalia as características do nervo ulnar (se está inchado, com formato alterado ou mostrando sinais de compressão) e pode identificar cistos ou outras causas ao redor dele. O ultrassom também permite uma avaliação dinâmica, ou seja, o médico pode pedir para você mover o cotovelo durante o exame para verificar se o nervo está “saindo do lugar” (subluxação).

  • Raio-X: Pode ser solicitado para avaliar a parte óssea do cotovelo, procurando por artrose, fraturas antigas ou fragmentos ósseos que possam estar diminuindo o espaço para o nervo.

Tratamento

O objetivo do tratamento é aliviar a pressão sobre o nervo para que ele possa se recuperar, aliviando a dor e a dormência e restaurando a função da mão.

 

Na grande maioria dos casos, o tratamento inicial é conservador (sem cirurgia):

  • Mudança de hábitos: O mais importante. Evitar apoiar o cotovelo em superfícies duras e evitar manter o cotovelo dobrado por períodos prolongados.

  • Uso de órteses (talas): Especialmente durante a noite. Uma órtese leve pode ser usada para manter o cotovelo mais reto durante o sono, impedindo que você o dobre e irrite o nervo.

  • Fisioterapia ou Terapia da Mão: Exercícios específicos de “deslizamento neural” podem ajudar o nervo a se mover mais livremente dentro do túnel.

  • Medicamentos: Anti-inflamatórios ou analgésicos podem ser usados por curtos períodos para ajudar a controlar a dor e o inchaço.

Cirurgia

A cirurgia é indicada quando o tratamento conservador não traz alívio, quando os sintomas são muito intensos, ou (principalmente) quando já existe sinal de fraqueza ou atrofia muscular. Nesses casos, esperar pode levar a danos permanentes.

 

O procedimento cirúrgico é relativamente simples e visa “libertar” o nervo. Isso pode ser feito de duas formas principais:

  1. Descompressão: O cirurgião apenas “abre” o túnel, cortando o ligamento que forma o teto dele, dando mais espaço para o nervo.

  2. Transposição do Nervo: Em alguns casos, além de liberar o nervo, o médico pode movê-lo para um novo local na frente do cotovelo, onde ele ficará menos sujeito à pressão.

A cirurgia é geralmente realizada com anestesia regional (bloqueio do braço) associada a uma sedação leve, e o paciente costuma ir para casa no mesmo dia.

Prognóstico e Recuperação

Após a cirurgia, a Terapia da Mão é essencial para ajudar na recuperação do movimento, força e cicatrização. Pode ser necessário usar uma imobilização ou curativo por alguns dias. Os pontos costumam ser retirados após 14 dias.

 

É muito importante entender que a recuperação do nervo é lenta. O alívio da dor costuma ser rápido, mas a dormência pode levar meses para melhorar.

 

Em casos onde a compressão já era muito antiga ou grave (com atrofia muscular), o prognóstico de recuperação completa da sensibilidade é incerto. O objetivo da cirurgia é parar a progressão da doença e melhorar a força, mas algumas sequelas, como uma dormência residual, podem ser temporárias ou até permanentes.

Quando Procurar o Especialista

Não ignore os sintomas. O diagnóstico precoce é fundamental para um bom resultado e para evitar danos permanentes ao nervo.

 

Procure um especialista em Cirurgia da Mão se você notar:

  • Dormência ou formigamento constante nos dedos mínimo e anelar.

  • Perda de força para segurar objetos ou realizar tarefas finas.

  • Se perceber que a musculatura da sua mão está ficando “funda” ou “murcha”.

Dúvidas Frequentes (FAQ)

A Síndrome do Túnel Cubital pode melhorar sozinha? Em casos muito leves, apenas mudar os hábitos (como parar de apoiar o cotovelo) pode aliviar os sintomas. No entanto, se a dormência é frequente ou se há fraqueza, ela geralmente não melhora sem tratamento e tende a piorar.

 

Eu posso ter isso nos dois braços ao mesmo tempo? Sim. Como os fatores de risco (como a forma de dormir ou o trabalho) são geralmente os mesmos para ambos os lados, não é incomum que os pacientes desenvolvam a síndrome nos dois cotovelos.

 

Vou recuperar 100% da sensibilidade após a cirurgia? Depende da gravidade e do tempo de compressão antes da cirurgia. Nervos se recuperam lentamente. Em casos graves, o objetivo principal é parar a piora e recuperar a força. A sensibilidade pode melhorar muito, mas pode não retornar totalmente ao normal.

 

O problema pode voltar mesmo depois da cirurgia? É raro, mas pode acontecer, especialmente se houver formação excessiva de cicatriz ou se a compressão não for totalmente liberada. Por isso, a técnica cirúrgica e o acompanhamento com um especialista são fundamentais.

Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.