Paroníquia
Você já sofreu com uma dor latejante no canto do dedo, que fica vermelho, inchado e sensível ao menor toque? Esse problema, muito comum, chama-se Paroníquia.
Embora seja uma infecção considerada simples na maioria das vezes, ela pode se tornar muito dolorosa e, se não tratada, pode piorar. Este guia explica o que é a paroníquia, por que ela acontece e como ela é tratada.

O Que É?
A Paroníquia é a infecção da pele que fica ao redor da unha (na dobra da unha, chamada de prega ungueal).
Pense na sua cutícula como um “selante” natural que protege a base da unha. Quando esse selo é quebrado, bactérias (ou fungos, em casos crônicos) encontram uma porta de entrada.
Uma vez dentro, essas bactérias causam uma inflamação (dor, calor, vermelhidão) e, frequentemente, formam uma pequena coleção de pus (um abscesso).
Causas e Fatores de Risco
A paroníquia acontece quando há uma “porta de entrada” para germes. Os fatores de risco mais comuns são:
Tirar ou puxar as cutículas: Este é o principal motivo. A cutícula é a proteção natural da unha.
Roer unhas: A saliva e os pequenos traumas abrem caminho para a infecção.
Puxar “pelinhas”: Criar pequenas feridas nos cantos dos dedos.
Manicure: Uso de materiais não esterilizados ou um procedimento que “cava” demais as cutículas.
Mãos úmidas: Pessoas que trabalham com as mãos constantemente na água (como cozinheiros, faxineiros ou bartenders) podem desenvolver a paroníquia crônica, que é mais lenta e muitas vezes causada por fungos (Candida).
Sintomas Mais Comuns
A paroníquia aguda (a mais comum, causada por bactéria) tem sintomas claros:
Dor: É o sintoma principal. Começa leve e se torna intensa e latejante, piorando com o toque ou qualquer pressão.
Vermelhidão e Inchaço: A pele ao lado ou na base da unha fica visivelmente vermelha e inchada.
Calor: A área infectada fica mais quente que o resto da pele.
Presença de Pus: Após um ou dois dias, é comum ver uma “bolha” de pus amarelado ou esbranquiçado se formando sob a pele, ao lado da unha.
Sinal de Gravidade: Se a vermelhidão começar a “subir” pelo dedo, ou se o paciente tiver febre, é sinal de que a infecção pode estar se espalhando e precisa de atenção médica imediata.
Diagnóstico
O diagnóstico da paroníquia é majoritariamente clínico. Na maioria das vezes, a avaliação no consultório é suficiente.
O especialista em cirurgia da mão irá:
Ouvir sua História: Entender como os sintomas começaram (se você tirou a cutícula, roeu a unha, etc.).
Fazer um Exame Físico: O médico irá simplesmente olhar e apalpar o seu dedo. A aparência de dor, vermelhidão, inchaço e a possível presença de pus são suficientes para o diagnóstico.
Exames Complementares (em casos específicos): Embora raramente necessários para uma paroníquia simples, exames de imagem podem ser solicitados se a infecção for grave, não melhorar, ou se houver suspeita de complicações:
Ultrassom (Ultrassonografia): É um exame excelente para avaliar as partes moles. Ele pode mostrar claramente se existe uma coleção de pus (abscesso) mais profunda e qual o seu tamanho exato, ajudando a planejar a drenagem.
Raio-X: Pode ser solicitado se houver suspeita de que a infecção atingiu o osso (acometimento ósseo) ou se houve um trauma no dedo.
Ressonância Magnética: É um exame mais sensível, solicitado em casos mais graves, para avaliar com precisão a extensão da infecção nos tecidos profundos (como tendões) e para detectar o acometimento ósseo (osteomielite) em sua fase inicial.
Cultura: Em casos crônicos ou atípicos, o médico pode colher uma amostra do pus para identificar a bactéria ou fungo exato e escolher o antibiótico correto.
Tratamento
O objetivo do tratamento é eliminar a infecção e aliviar a dor. O tratamento depende da fase da infecção.
Fase Inicial (Inflamatória – sem pus visível): Se a infecção for pega bem no começo (apenas vermelhidão e dor leve):
Banhos de Água Morna: Mergulhar o dedo em água morna com sabão neutro por 10-15 minutos, várias vezes ao dia, pode ajudar a reduzir a inflamação e “puxar” a infecção.
Antibióticos: O médico pode prescrever um antibiótico oral ou pomada, se julgar necessário.
Fase de Abscesso (com pus): Quando já existe uma “bolha” de pus visível, o tratamento principal é a drenagem. Apenas tomar antibiótico não irá resolver, pois o remédio não consegue chegar dentro da coleção de pus.
Cirurgia
O tratamento cirúrgico para a paroníquia é a drenagem do abscesso (a coleção de pus). Este é um procedimento cirúrgico que não deve ser subestimado, pois exige técnica asséptica (estéril) para tratar a infecção de forma segura e evitar complicações.
Quando está indicada: Sempre que houver uma coleção de pus (abscesso) formada. Tentar tratar um abscesso apenas com antibióticos, sem drenagem, não costuma funcionar.
Como é feita: O procedimento deve ser realizado em um ambiente estéril, como uma sala de procedimentos adequada. Em casos mais graves, extensos, ou em pacientes com a imunidade comprometida (como diabéticos), a drenagem é idealmente realizada no centro cirúrgico.
Anestesia: É realizada com anestesia de bloqueio local (um “bloqueio digital”). O médico aplica anestesia na base do dedo, e toda a ponta do dedo fica dormente, garantindo que o paciente não sinta dor durante o procedimento.
O Procedimento: O cirurgião faz uma incisão (corte) precisa sobre a área de maior inchaço para permitir que o pus saia. Neste momento, é frequente a coleta de material (cultura), que é enviado ao laboratório para identificar exatamente qual bactéria ou fungo está causando a infecção. Isso ajuda a direcionar o uso do antibiótico correto.
Limpeza: Após a coleta e a saída do pus, a área é exaustivamente lavada com soro estéril. O alívio da dor latejante costuma ser imediato após a drenagem.
Prognóstico e Recuperação
O prognóstico da paroníquia é excelente, desde que tratada adequadamente. A recuperação e o manejo pós-operatório dependem diretamente da gravidade da infecção.
Infecções Leves a Moderadas: Na maioria dos casos, quando a infecção é tratada precocemente, o procedimento de drenagem é simples. O paciente recebe alta e vai para casa no mesmo dia, com um curativo oclusivo no dedo.
Infecções Graves: Em casos mais extensos, ou em pacientes com a imunidade comprometida (como diabéticos), pode ser necessário que o paciente permaneça internado. A internação permite receber antibióticos endovenosos (na veia) para um controle mais eficaz da infecção e aguardar os resultados das culturas para direcionar o tratamento.
Cuidados com o Curativo: Você será orientado a manter o curativo limpo e seco. Na maioria das drenagens, não são necessários pontos (suturas). O pequeno corte é frequentemente deixado aberto de propósito, para permitir que qualquer resto de infecção termine de sair (drenagem).
Reabilitação: Não há reabilitação complexa. O paciente é orientado a movimentar o dedo para evitar rigidez. Se algum ponto for necessário em casos mais complexos (como em paroníquias crônicas), ele será retirado após 14 dias.
Quando Procurar o Especialista
Não espere a dor ficar insuportável, pois infecções não tratadas podem se agravar rapidamente.
Procure um Cirurgião da Mão se você:
Sente uma dor latejante e intensa, especialmente se ela atrapalha o sono.
Consegue ver uma bolha de pus se formando ao lado da unha.
Notar que a vermelhidão está se espalhando pelo dedo.
Tiver febre, mesmo que baixa.
For diabético ou tiver a imunidade baixa (como pacientes em quimioterapia ou transplantados). Nesses casos, qualquer sinal de infecção deve ser avaliado rapidamente.
Dúvidas Frequentes (FAQ)
Qual a diferença entre Paroníquia e “panarício”? São infecções parecidas, mas em locais diferentes. A Paroníquia é a infecção ao redor da unha. O Panarício (ou Felon) é a infecção na polpa do dedo (a “almofadinha” da ponta), que é mais grave e profunda.
Posso eu mesmo estourar em casa com uma agulha? Não. Tentar “furar” em casa é perigoso. Você pode usar uma agulha não esterilizada, empurrar a infecção para locais mais profundos (como o osso ou o tendão) e causar uma lesão muito mais grave.
Preciso tomar antibiótico? Sim, na grande maioria dos casos. O antibiótico é uma parte essencial do tratamento. A drenagem cirúrgica remove a coleção de pus (o abscesso), mas os antibióticos (seja em pomada, em casos muito iniciais, ou em comprimidos, na maioria das vezes) são necessários para tratar a infecção na pele e nos tecidos ao redor (a celulite) e impedir que ela se espalhe.
Como posso evitar a Paroníquia? A melhor forma é não tirar as cutículas (apenas empurrá-las, se necessário), não roer unhas, não puxar as “pelinhas” e usar luvas se você mexe muito com água ou produtos de limpeza.
Se você se identifica com esses sintomas, uma avaliação especializada é fundamental. Agende sua consulta para um diagnóstico preciso e para iniciarmos o tratamento adequado.
